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CONAQ deixa mesa de diálogo com INCRA por falta de avanços na titulação de terras quilombolas

Movimento quilombola suspende participação após 17 reuniões sem resultados concretos; no ritmo atual, titulação de todos os territórios levaria 2.188 anos
Caravanas de diferentes estados participam de evento, organizado pela Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Caravanas de diferentes estados participam de evento, organizado pela Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

— Joédson Alves/Agência Brasil

25 de abril de 2025

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) anunciou sua retirada da 18ª edição da Mesa Nacional Quilombola de Diálogo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A entidade justificou a decisão pela ausência de representantes com poder decisório no encontro e a falta de avanços concretos nos processos de titulação de territórios quilombolas.

Segundo comunicado da CONAQ, a mesa, criada a partir de demandas do próprio movimento quilombola, perdeu sua capacidade de produzir resoluções práticas diante da recorrente morosidade do Estado.

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“Não há mesa para dialogar se aqueles que têm a caneta na mão não participam. Por isso, em solidariedade a todos os quilombolas do Brasil, anunciamos nossa retirada. Nosso grito continua: ‘Nenhum Quilombo a Menos’.”, afirma a coordenação em nota oficial.

A entidade reforça que a situação atual demonstra descompromisso institucional com a pauta da regularização fundiária e com a proteção das vidas quilombolas, em meio ao avanço da violência e ao número crescente de assassinatos de lideranças.

Demora nos processos agrava cenário de violações

De acordo com dados da organização Terra de Direitos citados pela CONAQ, o ritmo atual dos processos no INCRA levaria cerca de 2.188 anos para garantir a titulação de todos os territórios quilombolas com processos abertos. 

A lentidão estrutural tem impedido a concretização de direitos constitucionais garantidos, como o previsto no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), no Decreto nº 4.887/2003 e na Convenção nº 169 da OIT.

A CONAQ também aponta que a ausência de políticas públicas voltadas aos territórios quilombolas acentua as vulnerabilidades, tornando urgente a articulação de ações efetivas entre os diferentes setores do governo federal.

CONAQ cobra reunião com o presidente e agenda interministerial

Em resposta à paralisia dos avanços, a coordenação da CONAQ exige a construção de uma agenda interministerial com a participação direta do presidente da República. A entidade defende que a complexidade das demandas quilombolas exige o envolvimento de diversos ministérios com poder decisório e capacidade de execução orçamentária e política.

Entre os órgãos cuja presença é considerada essencial na Mesa Quilombola estão os Ministérios da Justiça e Segurança Pública, Direitos Humanos e da Cidadania, Planejamento e Orçamento, Fazenda, Meio Ambiente e o Ministério Público Federal, além do próprio INCRA. A ausência frequente dessas instituições nas reuniões, segundo a CONAQ, compromete a capacidade do espaço de alcançar compromissos institucionais concretos.

A entidade também solicita um cronograma objetivo para a elaboração e conclusão dos Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID), considerados essenciais para destravar os processos de regularização.

Reivindicação por justiça territorial

A CONAQ encerra sua nota reafirmando o compromisso com a luta por justiça territorial e exige que os recursos públicos destinados à pauta quilombola sejam efetivamente aplicados. A entidade mantém sua disposição para o diálogo, mas insiste na necessidade de reestruturação do espaço institucional, com a inclusão de representantes com poder de decisão e o fortalecimento de compromissos operacionais.

“Acreditamos que apenas com esse esforço conjunto e interministerial será possível assegurar a justiça territorial que nós, povos quilombolas, demandamos em conformidade com a legislação em vigor”, conclui o comunicado.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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