O pleito municipal de 2024 conta com a maior participação de candidaturas negras já registrada, que, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), somaram mais de 240 mil candidatos autodeclarados pretos ou pardos no Brasil. Na capital do Rio de Janeiro, Thaís Ferreira (PSOL), de 36 anos, é uma das mulheres negras que disputam uma vaga na Câmara Municipal.
Criada no bairro Irajá, na Zona Norte do Rio, a parlamentar foi eleita como vereadora pela primeira vez em 2020 com mais de 14 mil votos. Seu mandato, conhecido como “mãedata”, trouxe como pautas centrais temas relacionados à garantia de direitos da infância e da maternidade. Ela compõe o grupo das dez únicas mulheres que dividem as 51 cadeiras na casa de leis carioca com os demais vereadores.
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Líder comunitária, ativista e mãe de quatro pequenos, Thaís Ferreira é autora de 108 leis ordinárias aprovadas na Câmara, e responsável por instaurar a Comissão Especial de Combate ao Racismo Obstétrico e o Estatuto da Igualdade Racial no município. A vereadora ainda foi a primeira mulher a presidir uma sessão com seu filho no colo e também a primeira a tirar licença maternidade no legislativo carioca.
Em entrevista à Alma Preta, a candidata à segunda legislatura destaca que, caso reeleita, seu segundo mandato seguirá articulando políticas públicas que priorizem as classes mais vulnerabilizadas.
Alma Preta: Quais são os maiores desafios que a candidata enxerga na cidade?
Thaís Ferreira: Os maiores desafios estão relacionados à correção das desigualdades de forma radical, começando pelo ventre das mulheres negras e pelas infâncias negras, pobres e mais vulnerabilizadas. É preciso políticas públicas que deem de verdade prioridade para essas vidas, evitando a inviabilização de cada uma delas ainda no começo.
Alma Preta: Quais são suas principais propostas nessa campanha?
Thais Ferreira: As minhas principais propostas são relacionadas a garantir dignidade desde o começo da vida para todas as pessoas, relacionando a questão da justiça racial, a justiça social, através da promoção de saúde, bem-viver e acesso pleno ao direito à cidade, à cultura e ao lazer.
Alma Preta: A candidata teve uma forte atuação pela infância e maternidade durante seu mandato, área em que é especialista. Qual será a continuidade do seu mandato na temática?
Thaís Ferreira: Na continuidade do mandato a gente pensa em efetivar as políticas que já foram propostas, ou seja, fazer com que elas aconteçam na vida das pessoas e procurar ainda mais, porque, quando a gente está falando de direitos de mulheres, mães e crianças, ainda há bastante espaço para garantir a seguridade social de todo mundo desde o começo da vida até a idade adulta. A gente está falando de políticas para garantir a justiça social reprodutiva de meninos e meninas.
Alma Preta: Em 2023, a candidata lançou o “Pequeno Manual do Racismo Obstétrico”. Quais propostas a candidata apresenta na área da saúde para enfrentar essa forma de racismo?
Thaís Ferreira: Agora a gente está lutando para garantir que todo esse arcabouço legal que combate o racismo obstétrico seja aplicado e efetivado na rede de saúde pública do município do Rio de Janeiro. E ainda existem outras proposições, como a criação de indicadores, a proposta de dados para avançar com as políticas públicas.
Alma Preta: Como a vereança pode incidir na luta contra o racismo?
A vereança pode incidir na luta contra o racismo através da proposição das políticas públicas de afirmação e reparação histórica e também da fiscalização das leis que já existem. Como, por exemplo, o Estatuto da Igualdade Racial, que foi aprovado por mim em 2024.
Alma Preta: As Câmaras brasileiras são amplamente de direita. Como é possível agir nesse ambiente para garantir o avanço de propostas antirracistas?
Thaís Ferreira: Para garantir o avanço das propostas antirracistas é preciso a articulação prioritariamente dos movimentos sociais e a conscientização dos atores sociais já instituídos na Casa Legislativa, que estão em outras organizações, no Secretariado e no Executivo, de como o avanço nas políticas antirracistas beneficia toda a sociedade.