“Os negros e negras precisam se unir”, diz Dandara Castro (PT-MG). A jovem de 29 anos foi vereadora do município de Uberlândia, em Minas Gerais, e hoje compõe a Câmara dos Deputados, em Brasília. Ela, assim como outras deputadas negras entrevistadas pela Alma Preta Jornalismo, acreditam que o Congresso Nacional em 2023 será desafiador, mas acreditam no poder do “aquilombamento”para conseguirem aprovar as pautas de direitos.
“Eu acho que os parlamentares negros e negras devem usar uma estratégia ancestral que é o aquilombamento. A gente se unir, andar juntos, nos fortalecer para fazer uma bancada negra potente e de resistência”, disse Dandara, eleita com mais de 80 mil votos.
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No ano que vem, o parlamento contará com cinco deputados e deputadas federais indígenas e 135 serão autodeclarados pretos e pardos. Em se tratando de gênero, 91 mulheres foram eleitas.
Segundo levantamento do programador Paulo Mota, do Data_Labe, a maioria dos deputados eleitos integram partidos de direita, com 286 eleitos. Já os deputados da esquerda eleitos somam 117 e os de centro com 110 eleitos.
Veterana no Congresso, Taliria Petrone (Psol-RJ) afirma que, mesmo com um Congresso conservador, a eleição de mais mulheres e indígenas não é aleatória. Para a deputada, existe uma reorganização da esquerda que pode favorecer o Brasil no que diz respeito aos direitos humanos.
“Há uma mudança em curso que vai fazer enfrentamento no cotidiano desse Congresso”, considera.
Mônica Seixas (Psol), deputada estadual por São Paulo, diz que essa conformação do parlamento é um reflexo da polarização política do país, “mas com uma surpreendente ampliação de setores que são contrários a pautas históricas dos trabalhadores, das mulheres, negras e negros”. Apesar do maior número de candidaturas populares ter sido eleita, e de uma possível vitória de Luís Inácio Lula da Silva, Mônica considera que as pautas bolsonaristas ainda prevalecerão no Plenário.
“Acredito que mesmo com a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula no segundo turno, que é o cenário mais provável, a agenda bolsonarista continuará pautando o Congresso, com projetos como a reforma administrativa, a ampliação da liberação de armas, a destruição ambiental e o desmonte de políticas de combate a violência de gênero. Um tema central desse ano é a revisão da Lei de Cotas, de 2012, o que me preocupa com essa nova configuração”, salienta a deputada.
As parlamentares avaliam que a conformação da bancada negra para a nova legislatura que se inicia em 2023 será combativa e comprometida com as pautas antirracistas. No entanto, elas percebem que as autodeclarações de parlamentares não-negros compondo o quadro de negros pode esvaziar os debates.
“Vamos precisar incidir sobre isso [autodeclarações de pardos] no próximo ciclo. Ao mesmo tempo, há um conjunto de negros e negras comprometidos com a luta antirracista, com a luta pelo direito dos povos indígenas e eu não tenho dúvidas que nós vamos fazer avançar a luta por direitos”, considerou Taliria Petrone.
Mônica Seixas disse que as pessoas têm dificuldades de entender o que é o pertencimento étnico-racial. Por isso, “devemos ser educativas nesse processo para explicar que pardos são negros, além de despertar uma consciência racial nas pessoas negras”.
Para garantir um Congresso Nacional preocupado com as questões da população negra, as parlamentares destacam que a principal tarefa é eleger Lula. Depois disso, é pensar uma legislatura com pautas que são fundamentais, como por exemplo, derrubar o teto dos gastos e revogar a Reforma Trabalhista.
“Assim a gente vai ter investimentos em saúde, educação e assistência, para que possamos dar continuidade ao trabalho de benefícios para a população negra”, consideraram as deputadas.
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