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Douglas Belchior sai do PSOL: “Esquerda não reconhece o movimento negro como força política”

A ruptura com o partido se deu após o 7º Congresso Nacional do PSOL, que ainda não decidiu apoiar  a candidatura de Lula em 2022: “Acredito e defendo a necessidade de fortalecer desde já a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva como contraponto a Bolsonaro. Titubear à esta altura é um erro", diz o ativista

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal

O ativista do movimento negro, Douglas Belchior

30 de setembro de 2021

O coordenador da Coalizão Negra por Direitos e historiador, Douglas Belchior, anunciou sua saída do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) após 16 anos. Em nota divulgada nesta quinta-feira (30), o professor destaca que sua decisão foi tomada depois das conclusões tiradas no 7º Congresso Nacional do PSOL, mas foi amadurecida por um tempo. Para a Alma Preta Jornalismo, o ativista ressalta que “a esquerda tem dificuldade em reconhecer o movimento negro como força política. É como se a luta política negra não contasse, não fosse considerada. Só vale o que a branquitude organiza”. 

No texto publicado, Belchior afirma que já chegou a questionar algumas condutas do partido e sofreu diversas represálias. Um dos exemplos citados, é a falta de posicionamento do PSOL quanto ao apoio à candidatura de Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2022: “Acredito e defendo a necessidade de fortalecer desde já a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva como contraponto a Bolsonaro. Titubear a esta altura é um erro. Mais um tema tergiversado neste Congresso”, pontua.

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Para ele, os movimentos de esquerda estão alheios às reais pautas do povo negro: “Eles ignoram, por exemplo, a resistência do povo africano escravizado durante todo o período colonial e também democrático. Ignoram nossa experiência de luta política”, avalia o professor. 

“É evidente que pesa também na decisão pela saída do partido, toda a violência política, a prática do boicote, do apagamento, do silenciamento, da desqualificação e do racismo institucional que sofri nesses anos”, diz a nota. O documento ainda destaca que, embora o discurso do partido carregue possibilidades de mudanças, “a estrutura não muda”.

O ativista ainda critica o Congresso Nacional do PSOL  e sua dificuldade de lidar com experiências que não estão atreladas às tendências internas do partido. Ele afirma que há limitação em buscar recursos fora de padrões partidários e relata dificuldade no fortalecimento de lideranças negras militantes.

“Este último congresso não deu sinais de renovações e mudanças. Titubear em assuntos cruciais para a sociedade, deixando debates importantes para o futuro, é um erro. Principalmente, por não avançar em produzir mecanismos reais de efetivação de uma política de fortalecimento de candidaturas negras, organicamente aliadas aos movimentos negros, entre outros modelos”, reforça.

O coordenador da Coalizão Negra por Direitos destaca que é necessária uma visão ampla a respeito das soluções conquistadas pelo ativismo negro. A falta de proatividade do PSOL em lidar com essas questões também é criticada pelo historiador. “Eles nunca tomaram iniciativa. Sempre precisaram que a gente os sacudisse, que a gente cobrasse, expusesse, constrangesse. E deveriam ter vergonha disso”, comenta. 

Futuro

Apesar da saída do partido e ausência de definições sobre uma nova filiação ou de uma candidatura em 2022, Douglas Belchior acredita na necessidade da criação de uma unidade, baseada na defesa dos direitos humanos, cuja missão seja a defesa da vida de pessoas negras, mulheres, quilombolas e indígenas, comunidade LGBTQIA+, com atenção às questões climáticas, enfrentamento à fome e das violências do Estado.

“O Movimento Negro se fortalece a cada dia e hoje qualquer formulação, iniciativa ou atuação política que se queira honestamente comprometida com o povo brasileiro, deve por obrigação observar, respeitar e considerar a elaboração e o acúmulo histórico da resistência negra organizada”, finaliza Belchior.

Segundo informações, o ativista seguirá atuando na Uneafro Brasil (União de Núcleos de Educação Popular para negros e classe Trabalhadora).

Histórico

Douglas Belchior se filiou ao PSOL enquanto ainda cursava História na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP), quando participou da campanha de Heloísa Helena para a presidência, em 2006. Em 2010, acompanhou de perto a candidatura à vice-presidência do militante do movimento negro baiano, Hamilton Assis.

Em 2012, foi candidato a vereador em Poá (SP), sendo o mais votado, mas sem coeficiente eleitoral não chegou a assumir a cadeira. Em 2014, foi candidato a deputado federal, sendo o terceiro mais votado da lista. Já em 2016, candidatou-se à vereança da cidade de São Paulo, novamente ficando na suplência. 

Em 2018, candidato mais uma vez a deputado federal, Douglas Belchior alcançou quase 50 mil votos, chegando a ser considerado eleito, mas perdeu a vaga ao final da apuração.

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