O professor e historiador Douglas Belchior, 43 anos, fundador da Uneafro, nesta segunda-feria (6), fez um ato de filiação ao PT (Partido dos Trabalhadores) e confirmou que irá disputar as eleições para a Câmara dos Deputados no ano que vem. O evento que aconteceu na sede do Teatro Oficina, no Bixiga, região central da capital paulista, contou com a presença massiva de representantes do movimento negro e de políticos progressistas que lutam contra o racismo.
“O movimento negro me deu o senso de justiça e a visão de mundo que eu busco ao reforçar a candidatura do Douglas e de muitos pretos e pretas nesse país. Eu busco um mundo onde a felicidade não seja só de uns poucos, eu quero um mundo com felicidade para todos. Nós temos direito à festa. Vamos construir uma revolução com a nossa visão de mundo, que é a visão que oferece a vida”, disse Regina Lúcia, uma das fundadoras do MNU (Movimento Negro Unificado).
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Douglas fez um discurso inflamado para reivindicar espaço de poder e de tomada de decisão para os negros na política. Nesse sentido, apontou a necessidade do campo progressista assumir a centralidade da luta antirracista e falou sobre a importância de negros na organização social e política do Brasil, ao lembrar que a Frente Negra Brasileira, apenas 40 anos após a abolição da escravidão, era uma organização política com mais membros, proporcionalmente, do que o PT ou o PMDB tem hoje em dia.
“O Movimento Negro é o segmento mais vitorioso da história desse país. Esse povo veio só com o corpo, sem mala, e construiu a riqueza desse país”, afirmou.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o pré-candidato ao governo do estado de São Paulo, Fernando Haddad, estiveram presentes e saudaram a filiação de Douglas Belchior. Gleisi disse que é um compromisso do partido eleger Douglas no ano que vem para fortalecer a atuação da legenda no Congresso. Atualmente, a bancada do PT tem 53 deputados federais, é a segunda maior, ficando uma cadeira atrás do PSL (Partido Social Liberal).
A Uneafro organiza núcleos de educação popular para jovens que querem entrar na universidade, que estão nas periferias da cidade de São Paulo, na região metropolitana, no interior do estado e também no Rio de Janeiro.
“O Brasil teve uma lei que proibiu o analfabeto de votar que durou 100 anos. Ou seja, 100 anos depois da abolição, o analfabeto não ainda podia votar. E não é surpresa que nesses 100 anos não houve preocupação de educar e alfabetizar, porque usaram a falta da educação como mecanismo permanente de exclusão do povo negro das decisões políticas”, pontuou Haddad.
Douglas disputou uma vaga para a Câmara dos Deputados em 2018, pelo PSOL, conseguiu 46.026 votos e ficou próximo de ser eleito em uma quarta vaga da legenda para os candidatos paulistas, porém, por conta do coeficiente eleitoral – que determina o total de cadeiras em relação à votação geral do partido – acabou ficando de fora.
“As palmas que recebi aqui hoje não são para mim. São para nós. Para o nosso talento, para a nossa paciência, nossa raiva e a nossa inteligência. Não chegamos aqui com pouca coisa”, declarou Douglas, que também faz parte da Coalizão Negra por Direitos, movimento que reúne mais de 150 entidades da luta antirracista.
A sua filiação marca um retorno do professor ao partido. No começo dos anos 2000, Douglas fez parte da Juventude do PT, foi militante das ações afirmativas, da luta antirracista e da valorização da educação na esquerda. “Antes de ser um militante de partido de esquerda, eu faço parte do movimento negro”, enfatizou Douglas.