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Em meio à guerra, pessoas com HIV/Aids sofrem com a falta de medicamentos na Ucrânia

Atualmente, estima-se que 250 mil pessoas convivem com o vírus no país, sendo que 156 mil fazem uso da terapia antirretroviral; organizações no Brasil e no mundo se organizam para dar suporte aos atingidos pelo conflito

Imagem mostra comprimidos coloridos em cima de um letreiro contendo, em repetição, as palavras "HIV" e "Aids"

Foto: Imagem: Agência Brasil

11 de março de 2022

O atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que ganhou repercussão internacional, tem gerado consequências socioeconômicas que dificultam o desenvolvimento e garantia de direitos básicos, como por exemplo, o acesso pleno à saúde. Entre as pautas levantadas neste âmbito, entidades do Brasil e do mundo alertam para a falta de distribuição de medicamentos e pedem proteção, neste momento, às pessoas em tratamento contra HIV/Aids, principalmente, na Ucrânia. 

Segundo dados fornecidos pela UNAIDS – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, o país tem a segunda maior epidemia da doença na região. Ao todo, estima-se que na Ucrânia 250 mil pessoas vivem com HIV, das quais 156 mil fazem uso da terapia antirretroviral – composta por medicamentos para o tratamento de infecções por retrovírus, especialmente o Vírus da Imunodeficiência Humana.  A demanda de medicamentos é diária para a sobrevivência e qualidade de vida daqueles que vivem com a doença.

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Considerando os possíveis atrasos ou até a pausa destes tratamentos, foram promovidos diálogos diretamente com a Organização das Nações Unidas (ONU) em busca de estratégias alternativas para contornar a situação de crise sanitária no contexto de guerra. Uma das entidades que repudiou o conflito foi a pernambucana Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, que atua há 28 anos na prevenção do HIV e de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e na promoção dos direitos humanos dos soropositivos.

Em nota disponibilizada em site oficial, a entidade afirmou que, desde o último dia 24 de fevereiro, tem mantido contato com pessoas afetadas pela guerra e que os relatos são preocupantes.

A Gestos reitera que conflitos bélicos geram crises humanitárias e quem paga o mais alto preço pelas disputas de poder da geopolítica sempre são as pessoas nos territórios que pouco ou nada podem fazer para impedi-las.

“Neste caso, nos preocupa particularmente a situação dos grupos que já são marginalizados e excluídos, como é o caso das pessoas vivendo com HIV/AIDS que, além de enfrentarem a violência das armas, ainda estão sob risco de descontinuidade do tratamento com antirretrovirais”, explica a entidade, em nota. 

Ainda segundo o levantamento realizado e publicado pela UNAIDS em 2021, ao todo, cerca de 37,7 milhões de pessoas no mundo inteiro viviam com HIV em 2020. Destas pessoas, cerca de 73% tinham acesso ao tratamento. 

Neste cenário, o governo da Ucrânia apresenta certo destaque em relação ao investimento na saúde desta população, pois, juntamente com organizações internacionais e membros da sociedade civil, tem implementado respostas eficazes ao HIV. Entretanto, com o conflito com a Rússia, todo o desenvolvimento e garantia de recursos à população em tratamento foi colocada sob risco, colocando a vida das pessoas que necessitam dos medicamentos em questão.

Leia também: Como a guerra na Ucrânia afeta os países africanos?

Falta de medicamentos 

Em entrevista recém concedida para a CNN Internacional, a diretora-executiva da UNAIDS, Winnie Byanyima, alarmou a comunidade sanitária internacional, ao anunciar que as pessoas que vivem com HIV/Aids na Ucrânia terão apenas algumas semanas de terapia antirretroviral. 

A notícia também foi seguida de um pronunciamento da organização, que realizou um pedido oficial pela proteção dos profissionais e pela continuidade ininterrupta dos serviços de saúde e de resposta ao HIV para todas as pessoas.

Para Alessandra Nilo, coordenadora-geral da Gestos, os pronunciamentos das entidades são resultados de uma comum percepção que a situação destas pessoas diante do conflito demanda sensibilidade internacional e a implementação de possíveis ações de incidência para suprir a falta ou minorar os danos causados.

“É preciso pontuar que os medicamentos em questão, que atendem a população ucraniana, são importados, por isso, em um momento de guerra como este, que os espaços aéreos estão fechados e os corredores humanitários estão sendo bombardeados, é muito difícil fazer com que cheguem a todos que estão em tratamento. Uma situação realmente grave”, pontua. 

A gestora ainda acrescenta que, apesar da movimentação para reduzir os danos causados, o transporte dos medicamentos ainda se dá por via terrestre, como a maneira mais rápida de chegar ao maior número de cidades, o que também gera preocupação.

“Aguardamos uma movimentação dos países e dos órgãos competentes para que o cenário tenha uma melhora e os tratamentos não retrocedam, entretanto, o cenário ainda é muito imprevisível, por isso, continuaremos acompanhando a distribuição por lá”, finaliza. 

A entidade ainda disponibilizou um relato de uma fonte ucraniana que relata o que se tem vivido nas últimas semanas e a expectativa de até quando deve se dar a continuidade dos tratamentos antirretrovirais. 

“Estamos em situação difícil, mas estamos tentando lidar. Ações na Ucrânia estão sendo feitas sobre isso até o início de abril. A Pepfar [Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS] nos ajudou, financiou a aquisição de 209.000 medicamentos. Esperamos que chegue em até 10 dias. Não sabemos como entregaremos em todas as cidades, por causa do bombardeio russo. Há uma hora, eles bombardearam até mesmo o hospital infantil e a maternidade em Mariupol e sabiam o que estavam bombardeando”, diz o relato.

Diante da situação grave, além dos pronunciamentos voltados à comunidade internacional e essa mobilização, mobilizações coletivas da sociedade civil e das instituições multilaterais conseguiram apoio do Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária para que os recursos que estavam no país e os demais disponibilizados para projetos pudessem ser redirecionados para a questão de acesso à tratamento da Ucrânia. 

Equipes de profissionais da saúde, que compõem a Unaids, por exemplo, permanecem no terreno na Ucrânia, trabalhando para garantir que as pessoas que vivem com HIV e as populações-chave tenham acesso contínuo a serviços que salvam vidas, com foco particular nos civis mais vulneráveis, com prevenção, testagem, tratamentos e cuidados com a população afetada pela crise. 

Por enquanto, as entidades seguem em diálogo e esperam que os governos e a sociedade civil organizada em todo o mundo se manifestem terminantemente contrárias à guerra e esperam que, através da diplomacia, essa crise possa ser resolvida o mais breve possível.

Leia também: Uma visão africana da guerra na Europa

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