O fim do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, sempre esteve no radar do vereador Fernando Holiday (Patriota). A investida agora é uma proposta de apagar a figura de Zumbi substituindo o líder do quilombo dos Palmares pelo advogado, poeta, jornalista e abolicionista Luiz Gama.
Holiday mandou uma carta para outros vereadores acompanhada de um exemplar do livro “Luiz Gama – o advogado dos escravos”, do autor Nelson Câmara. De acordo com o vereador do Patriota, Zumbi seria uma figura “pouco conhecida documentalmente” e “controversa”.
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“É uma afronta. A Marcha da Consciência Negra acontece há quase duas décadas na cidade de São Paulo. E também representa a luta do povo negro para que se torne um feriado nacional ”, diz a co-vereadora Paula Nunes, da bancada Feminista (PSOL), em entrevista à Alma Preta.
Para a co-vereadora, é um absurdo a ideia de tentar contrapor as duas figuras, pois ambas são muito importantes para o povo negro e para o Movimento Negro no Brasil. “Zumbi foi um herói. Um líder da principal experiência de coletividade e luta organizada que existiu no país. Por sua vez, Gama foi muito importante e precisa de uma data também”, pontua Paula.
O escritor Oswaldo Faustino, militante do Movimento Negro e autor do livro “A Luz de Luiz – por uma terra sem reis e sem escravos”, desconfia da iniciativa de Holiday. “Não há relação da data [20 de novembro] com a vida de Luiz Gama. Não vejo porque lançar luz sobre iniciativas desse tal vereador que não objetiva nada favorável ao nosso povo O mesmo indivíduo que quer acabar com as cotas no serviço público, em nome de “direitos iguais” por que razão está interessado na valorização de Luiz Gama?”, considera o autor.
Faustino lembra que Gama nasceu em 21 de junho e morreu em 24 de agosto, duas possíveis datas que poderiam ser celebradas sem tirar a homenagem a Zumbi em 20 de novembro.
O escritor diz ainda que percebe uma estratégia por trás da proposta de Holiday, com o intuito de criar uma narrativa distorcida da luta contra a escravidão. “Apaga-se Zumbi e a história quilombola, do coletivismo, mas individualiza a luta, como se Luiz Gama tivesse agido sozinho e não fizesse parte de uma rede de construtores da luta”, finaliza.