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Jovens das periferias brasileiras acreditam em mandatos coletivos nas próximas eleições

4 de setembro de 2019

Para jovens das periferias, o trabalho coletivo nas favelas é o diferencial na hora de pensar políticas públicas às pessoas mais vulneráveis

 Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Marco Antonio / Marginal

Jota Marques tem 27 anos e mora na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro. O jovem costuma se apresentar como educador popular e escritor periférico. Hoje, o próximo objetivo é ocupar uma cadeira como Conselheiro Tutelar.

O pensamento de Marques está de acordo com perfil apresentado em pesquisa do instituto Datafolha, realizada em agosto de 2018. O levantamento apontou que os jovens eram a população com maior interesse em participar da política, por meio da disputa eleitoral ou assumindo algum cargo no governo.

Os dados mostraram que quanto mais novos eram, maior era a taxa de interesse político. No grupo de entrevistados entre 16 e 25 anos, 29% responderam ter muito interesse ou um pouco de interesse nas urnas.

Quando questionados sobre a ocupação de cargo público, sem uma candidatura, 34% das pessoas de 16 a 25 responderam ter interesse na ideia. Já na faixa etária de 26 a 40, o percentual foi de 30%. Entre as pessoas com mais de 41 anos, a média foi de 23%.

Para Marques, o interesse político vem no sentido de colaborar com políticas públicas às periferias.“É importante repensar como ocupamos os espaços de poder. Isso é questão de sobrevivência para quem vive nas margens da sociedade. A gente está falando do povo pobre, preto, que não pode se abster da disputa, mesmo nestes espaços elitistas”, defende.

Segundo o jovem, pensar a ocupação política é um direito, sobretudo para quem vive nas áreas mais pobres das grandes cidades. Ele acredita que no Rio de Janeiro, as favelas são os locais mais vitimizados com violências do Estado.

Em São Paulo, a arte-educadora Elaine Mineiro concorda com Marques. Ela, que será candidata a vereadora nas próximas eleições, é moradora de Cidade Tiradentes, zona leste da capital. Aline defende que ocupar a política é uma maneira de melhorar a vida das pessoas nas periferias, que muitas vezes não se veem nas decisões dos candidatos

“Eu acredito no espaço de poder ocupado por nós, os periféricos. A vida sempre foi precária na periferia. Nosso povo tem experimentado o medo, a truculência policial, e com esse cenário, trabalho por dias melhores e contra a precariedade e as injustiças no dia a dia”, comenta Elaine.

Dú Pente é ativista político e especialista em Opinião Pública. Para ele, a política é a maneira onde as pessoas negras podem ser colocar como protagonistas e indicar políticas públicas baseadas em suas próprias experiências. No próximo ano, o jovem será candidato nas eleições municipais.

Em 2016, Dú Pente foi candidato a vereador de Belo Horizonte, pelo PSOL, mas não alcançou os votos necessários. “Eu não quero ser o exclusivo. Ocupar esse lugar político sozinho. É importante pautarmos a juventude negra política, pois os jovens de hoje são os homens pretos de amanhã”, analisa. “Onde estão os homens pretos hoje? Nas vielas, prisões, na marginalidade, por causa da estrutura. Precisamos pensar nisso”, complementa Pente.

Coletividade nas periferias

Por mais que tenham interesses nos campos políticos, Jota Marques, Elaine Mineiro e Dú Pente apostam nos mandatos coletivos dos subúrbios brasileiros como diferencial nas eleições.

A ideia consiste em apresentar um candidato para disputar formalmente as eleições. Caso seja eleito, o parlamentar faz parte de um grupo de ativistas responsável pelas decisões do mandato.

“O meu bairro figurou, nos anos 90, como um dos mais violentos do país. Hoje tem a menor expectativa de vida na cidade de São Paulo e o menor número dos postos de emprego na cidade, ainda assim, construímos luta na quebrada para alterar essas desigualdades, sempre na coletividade. Isso funciona desde sempre”, ressalta Elaine.

A legislação brasileira não prevê a existência de mandatos coletivos, mas neste ano, algumas candidaturas deram certo, como Bancada Ativista, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e as Juntas, com cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

“O melhor é continuar ocupando coletivamente. Não dá mais pra ser unitário, tem que ser o povo. Favela é um atravessando o outro porque é a mesma dor. A gente tem qualidade técnica e experiência ancestral para atuarmos juntos em prol do que acreditamos”, reforça Jota.

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