Ex-presidente se orgulha de medidas como a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e reconhece que durante seu governo a pauta antirracista não avançou tanto quanto deveria
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: AFP
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (4), reconheceu que as medidas de combate ao racismo no Brasil durante seus governos, de 2003 a 2010, não tiveram a amplitude que deveriam. Para Lula, as pautas do movimento negro teriam “ganhado força” se tivessem contado com mais organização e participação social no governo.
“Há um processo evolutivo no racismo aqui no Brasil. É um racismo estrutural e violento, que está impregnado na cabeça das pessoas há muito tempo. Embora nós não tenhamos feito tudo o que era possível fazer, também acho que ninguém nunca conseguiu fazer o que fizemos em tão pouco tempo”, diz o ex-presidente, que respondeu aos questionamentos dos jornalistas em live transmitida pela Revista Fórum.
Entre as políticas criadas durante o governo Lula para combater o racismo, o ex-presidente destaca a criação da Secretaria Especial de Promoção e Igualdade Racial (Seppir). Segundo ele, a pasta foi uma iniciativa importante para a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010. “Foi a partir daí que conseguimos aprovar o Estatuto da Igualdade Racial, que estava há dez anos esperando votação. O estatuto, proposto por Paulo Paim, não era votado por causa de divergências”, lembra o ex-presidente.
Lula avalia que no atual cenário do Congresso Nacional, com viés conservador, e com Jair Bolsonaro no comando do país, dificilmente seria aprovada a proposta de criação de um estatuto de combate ao racismo.
A pauta racial dentro do partido dos trabalhadores
O jornalista Pedro Borges, co-fundador e editor-chefe do Alma Preta, participou da entrevista desta sexta-feira e questionou o ex-presidente sobre o peso do debate racial em um eventual novo governo petista e o espaço que a pauta negra ocupa dentro do partido. Além da atuação da secretaria setorial de combate ao racismo, Lula mencionou a escolha de Benedita da Silva, pelo PT, para a concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro, nas eleições marcadas para novembro de 2020.
“O PT dá muita atenção à questão do movimento negro e a participação dos negros na direção do partido. A gente faz um esforço extraordinário para ter candidaturas negras. A Bené em 1992 foi roubada porque era negra. Agora é a hora de enfrentar uma disputa eleitoral e conversar com o povo da periferia do Rio de Janeiro”, considera o ex-presidente.
Segundo Lula, a luta dos negros no Brasil é grande e a educação de qualidade é o caminho mais apropriado para a redução do racismo. “O que foi construído é pouco diante de mais de 350 anos de exploração durante a escravidão e mesmo depois da República, em 1889, continuou. Casos como o de George Floyd [homem negro assassinado pela polícia nos EUA], por exemplo, existem em milhares aqui no Brasil e não são divulgados”, pontua.
O professor de jornalismo Dennis de Oliveira, da USP (Universidade de São Paulo), perguntou qual é o posicionamento de Lula em relação à desmilitarização da polícia. Para o ex-presidente, a violência policial está cada vez crônica e responde ao projeto armamentista do presidente Jair Bolsonaro. “Ele queria uma polícia mais violenta, uma polícia que matasse, ele queria que o povo comprasse arma e fuzil. O que está acontecendo é resultado da cabeça miliciana do Bolsonaro”, considera Lula.
Durante a coletiva, o ex-presidente também destacou as ações feitas durante a sua gestão junto aos países do continente africano, como a construção de uma fábrica de medicamentos para a AIDS, em Moçambique, e projetos agrícolas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em Gana.