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Matheus Gomes: “O racismo não pode mais ser tradição”

Vereador em Porto Alegre, Matheus Gomes (PSOL-RS) busca se eleger como deputado estadual com propostas de enfrentamento ao racismo, defesa do meio ambiente e valorização da cultura

Imagem: Alma Preta com Reprodução/Matheus Gomes

Foto: Imagem: Alma Preta com Reprodução/Matheus Gomes

23 de setembro de 2022

Mestre em História, músico e ativista do movimento negro e estudantil, Matheus Gomes (PSOL) é vereador de Porto Alegre/RS e faz parte da primeira bancada negra da cidade. Natural da capital do Rio Grande do Sul, ele é candidato a deputado estadual no maior estado da região Sul do Brasil.

“Cresci numa família envolvida com a política e com a militância social. Então fui educado em um ambiente em que era comum ver a resistência diária do movimento sindical, do movimento negro e a luta da esquerda da cidade de Porto Alegre”, conta.

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Filho de uma comerciária e um barbeiro, aos 17 anos e no Ensino Médio em uma escola pública, Matheus Gomes iniciou o engajamento no movimento estudantil inaugurando também a militância vinculada ao movimento negro.

“Na época, a gente estava tendo o primeiro ano de implementação das cotas das ações afirmativas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, logo depois, eu entrei já na universidade. Fui da segunda turma de cotistas negros da UFRGS e fui aprofundando a minha militância como uma liderança estudantil e do movimento negro universitário que surgia naquele período”, explica.

Hoje, com 31 anos, Matheus Pereira Gomes relata que seus valores de igualdade, de humanismo e de solidariedade vêm, primeiramente, do seu ambiente familiar. Além disso, seu ativismo é complementado por sua trajetória iniciada há mais de uma década na atuação dentro dos movimentos negro e estudantil, integrada por sua experiência como aluno de escola pública durante toda a sua vida. Ele esteve à frente das manifestações das Jornadas de Junho em Porto Alegre em 2013.

Em 2018, Matheus Gomes ficou entre os 30 candidatos a deputado estadual mais votados na capital gaúcha, o que, mesmo não sendo suficiente para conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa, abriu a possibilidade para se eleger como o 5° vereador mais votado de Porto Alegre em 2020.

“Em 2020, me tornei vereador e fui aprofundar esse novo ambiente de luta que é a luta parlamentar. Quando a gente começou a entender mais a ausência da representatividade negra na política, nós vimos que a nossa tarefa seria se dedicar também para construir uma transformação nesse cenário”, relata.

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Três eixos principais de propostas

Dedicado à luta antirracista, à causa ecológica e às batalhas da periferia, o candidato a deputado estadual explica que está trabalhando com três grandes eixos principais de propostas.

O primeiro é o combate ao racismo no Rio Grande do Sul. “Hoje a gente tem 55 deputados e nenhum deles representa a comunidade negra. Nenhum é negro ou negra. São mais de um milhão e duzentos mil gaúchos que se autodeclaram negros e são completamente invisibilizados no debate político”, destaca.

Segundo o candidato, com a maior representação no parlamento será possível buscar políticas públicas em todas as áreas sociais que pautem o combate ao racismo. “O Rio Grande do Sul tem a região metropolitana aqui em Porto Alegre mais desigual para negras e negros em todo o Brasil, de acordo com o IBGE. Nós enxergamos o racismo como um elemento que condiciona essa desigualdade”, ressalta.

O segundo eixo das propostas de seu mandato tem a ver com a defesa do meio ambiente. “Nós estamos trabalhando muito forte a questão ecológica hoje aqui no nosso estado. Isso inclui a luta contra a privatização da água, que é um debate estratégico para nós. Há uma proposta dos últimos governos de privatizar a nossa empresa pública de água e saneamento que poderia tornar esse direito mais inacessível para a população”, explica.

Matheus Gomes discursandoHoje, o Rio Grande do Sul não tem representantes negros em sua Assembleia Legislativa | Crédito: Reprodução/Facebook Matheus Gomes

Além disso, sua campanha defende políticas emergenciais para despoluição dos rios em todo o estado, que é um problema grave enfrentado pela população, além de outras questões como o combate ao uso de agrotóxicos e uma política que impeça o desenvolvimento da mega mineração no estado do Rio Grande do Sul, que tem atingido comunidades quilombolas e indígenas.

Considerando seu ativismo também no campo da cultura, sendo músico, o terceiro eixo da proposta tem a ver com a valorização dessa área. “A gente está fazendo um trabalho a partir do mandato aqui da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e a gente quer levar para o estado. É o fortalecimento de rede de bibliotecas comunitárias, da defesa do Carnaval e das escolas de samba, além das pautas do movimento hip hop e o diálogo com ativistas do slam, que estão propondo que a atividade seja reconhecida como método pedagógico do ambiente escolar”, explica.

“A cultura negra e periférica é um elemento que faz parte da nossa militância e das atividades que a gente construiu ao longo da nossa trajetória e que agora a gente está trazendo também como uma visão de fortalecimento no ambiente parlamentar, seja na cultura por si só, mas também como uma atividade econômica e educacional”, complementa o candidato, que é parte da iniciativa Quilombo nos Parlamentos, que reúne candidaturas negras comprometidas com a luta contra o racismo.

Política para transformar a realidade

Matheus Gomes também é mais um dos candidatos negros no Brasil que sofrem ameaças constantes durante sua atuação política. De acordo com ele, as ameaças e as tentativas de impedir o exercício de sua atividade parlamentar iniciaram desde o seu primeiro dia de mandato.

“Foi um período muito difícil. A gente foi obrigado a tomar uma série de medidas de segurança para exercer o mandato e para fazer essa campanha eleitoral também, mas, por outro lado, o apoio que a gente conquistou na sociedade é muito grande e é uma resposta a isso”, conta o candidato, que buscou um conjunto de medidas para se auto-organizar em torno de sua proteção, já que os meios institucionais não se mobilizaram para isso.

Mesmo diante do contexto político atual de ameaças e violência, o vereador pontua que a esperança de poder reconstruir o Brasil sob bases antirracistas e de defesa real da igualdade é o que o move.

“O que nos move é a vontade de realmente conseguir representar a comunidade negra que, no último período, está cada vez mais consciente da necessidade de ter espaço no ambiente parlamentar. Nós temos um apoio popular que cresceu nesse período também e em meio a um governo que é declaradamente racista. Então, enquanto houver essa resistência a nível nacional e a necessidade da gente conseguir fazer da política um instrumento de transformação da nossa realidade, nós vamos estar resistindo e se organizando na defesa desses interesses” finaliza.

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