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Na CPI da Covid, Jurema Werneck aponta como a pandemia afetou a população de forma desigual

A médica, diretora da Anistia Internacional no Brasil e representante do Movimento Alerta é a primeira e única mulher negra ouvida pela CPI da Covid, no Senado Federal, onde aponta as irregularidades no combate à pandemia

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nataly Simões | Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A imagem mostra a médica e pesquisadora Jurema Werneck durante seu depoimento na CPI da Covid

24 de junho de 2021

A médica e pesquisadora Jurema Werneck foi convocada para falar na CPI da Covid, no Senado Federal, nesta quinta-feira (24). A diretora da Anistia Internacional no Brasil e representante do Movimento Alerta  lembrou já no início de sua fala o perfil racial das vítimas da pandemia. “No Brasil, 66% das vítimas morreram nas unidades públicas de saúde. A maioria eram pessoas não-brancas”, afirmou.

Jurema também apontou que o país apresentou o índice de 305 mil mortes acima do esperado durante as 52 semanas de pandemia. A médica destaca ainda que não necessariamente esses óbitos foram por Covid-19, mas pelos impactos da pandemia nas populações mais vulneráveis, como pretos e periféricos.

“Não são números, são pais, são mães, irmãos, tios, gente que eu não conheço, mas que habitam esse país como eu. O Brasil tinha vantagem temporal. O que poderia ser feito para reduzir a contaminação? Testagem, rastreamento e medidas não-farmacológicas”, avaliou Jurema.

“A desigualdade social é a injustiça da vulnerabilidade”

Aos senadores, Jurema salientou ainda que as pessoas com maior instrução e com receita mensal superior a quatro salários mínimos tiveram quatro vezes mais acessos aos testes de Covid-19, o que consequentemente resultou, segundo ela, em mais mortes de pessoas em vulnerabilidade social.

“Desigualdades estruturais tiveram sim influência sobre a taxa de mortalidade.  Morreram mais negros, indígenas e pessoas de baixa renda. A desigualdade social é a injustiça da vulnerabilidade. Deixamos passar”, ponderou.

A falta de testes, a negligência das ações de proteção – como o uso de máscaras e distanciamento social – e a sobrecarga do SUS (Sistema Único de Saúde) foram determinantes para a alta taxa de mortalidade no Brasil, de acordo com a médica. Ela afirma que o número de mortes poderia ter sido consideravelmente menor se uma política efetiva de controle baseada em ações não farmacológicas tivesse sido implementada.

“A análise nos mostrou que 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas em 2020. A maioria das pessoas que morreram estavam no sistema público. Quer dizer que o sistema público é ruim? Não. Quer dizer que o sistema público estava terrivelmente sobrecarregado e não conseguiu dar conta”, explica.

Recomendações à CPI

A primeira parte do depoimento da diretora da Anistia Internacional no Brasil terminou com a sugestão de que um plano de responsabilização e reparação seja criado para que a comunidade brasileira seja reconstruída de maneira digna após esse grande número de mortes.

“Recomendo também a criação de um memorial. São mais de meio milhão de mortos e a gente precisa viver como coletividade, brasileiros, viver os rituais, processos de lutos. Sugiro também que alguém lidere a frente nacional de enfrentamento para que todos os setores da sociedade sejam incluídos. Mais vidas podem ser salvas, ainda podemos salvar pessoas”, aconselha a médica.

Em coletiva de imprensa antes da sessão da CPI, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) destacou a importância de um posicionamento técnico sobre a pandemia, com a presença de Jurema Werneck e do epidemiologista e pesquisador Pedro Hallal.

“São pesquisadores que fizeram estudos sérios, que podem caracterizar o crime contra a vida ao longo da condução da pandemia pelo governo federal”, ressalta.

A participação de Jurema Werneck foi requerida pelo relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que classifica a participação da médica como necessária para subsidiar os membros da comissão com informações e esclarecimentos sobre a ação do governo federal na pandemia.

Leia também: ‘Crianças negras morreram mais pela Covid-19, diz pesquisa’

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