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O que é importante saber sobre a conjuntura política segundo estes especialistas negros

26 de fevereiro de 2019

Érica Malunguinho, Regina Lúcia, do MNU e Edson Cardoso, do jornal Irohin (BA), participaram de atividade neste sábado (23)

Texto / Simone Freire
Imagem / Adriano Souza

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A possibilidade e força de enfrentamento e resistência diante do atual cenário político no Brasil com a Presidência de Jair Bolsonaro (PSL) sintetizou a mesa de análise de conjuntura realizada por representantes do movimento negro, neste sábado (23), em São Paulo (SP).

Érica Malunguinho, deputada estadual, Regina Lúcia, do Movimento Negro Unificado (MNU) e Edson Cardoso, do jornal Irohin, da Bahia, fizeram parte da atividade mediada por Douglas Belchior, da Uneafro Brasil, que reuniu dezenas de pessoas.

Na ocasião, Malunguinho, recém-eleita para uma das cadeiras na Assembléia Legislativa de São Paulo, deu sinais do que será sua mandata nos próximos anos frisando a importância de entender o corpo negro como um quilombo, uma vez que ele sempre achou formas de sobreviver independentemente das condições que o cercam. “Não se pede licença para construir um quilombo. Todo lugar que o corpo negro estiver presente é um lugar de produção política”, disse.

Já Regina Lúcia, do MNU, fez um resgate da conjuntura social, política e econômica do país na perspectiva do movimento negro. Segundo ela, é equivocado achar que a ascensão da direita radical no Brasil, que culminou na eleição de Jair Bolsonaro (PSL), se deu após os episódios de 2013 que colocaram milhares de pessoas nas ruas em várias cidades do país conhecidos como Jornadas de Junho.

“O processo começa com a articulação e movimentação que movimentos negros e indígenas fazem para implementar na Constituição de 1988, a Constituição Cidadã”, disse, ressaltando que, embora tenham se passado 30 anos desde a promulgação da lei, a elite brasileira nunca se conformou com a Constituição.

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Participantes da atividade. Foto: Pedro Borges

Segundo Regina, a dominação dos meios de comunicação de massa – com destaque aos programas policialescos -, ações voltadas para dentro do legislativo criando candidaturas que fabricaram o que se conhece como a Bancada BBB (armamentista “da bala”, ruralista “do boi” e evangélica “da bíblia”), além do sério ataque à educação e investidas do capital estrangeiro formam um conjunto de movimentos que culminaram no atual cenário.

“Para a burguesia foi um golpe extremo. Eles não tiveram perdas nenhuma durante os governos populares, mas este governos populares tiveram a audácia de implementar o que estava a Constituição de 1988”, disse.

Em sua vida pública com parlamentar Bolsonaro fez várias menções ao que pensa ser o papel ou realidade de negros, quilombolas e indígenas no país. “Eu fui em um ‘quilombola’ em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas [unidade de medida para peso de gado]. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, disse, aos risos do público, durante uma palestra.

Em sua candidatura à Presidência, teve ao seu lado a figura do subtenente do Exército Hélio Fernando Barbosa Lopes, deputado federal mais votado no Estado Rio de Janeiro.

Negro, Lopes foi muito criticado pelo antirracista no país. Durante sua fala, Edson Cardoso, do Irohin, lembrou de episódios do período eleitoral em que o então candidato circulada ao lado de Bolsonaro com camisetas com as mensagens “Minha cor é o Brasil”.

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Douglas Belchior, da Uneafro, mediou a atividade. Foto: Pedro Borges.

Para Cardoso, desta forma, o recado estava dado: quem assumiria o governo não iria fazer política pública para pessoas negras. “Cor, para ele, não existe, não tem significado. Quando você diz ‘Minha cor é o Brasil você está negando o significado histórico das relações, das continuidades, civilização, valores de religião. Um conjunto de elementos desaparece quando você nega que este pertencimento seja real na realidade brasileira”, criticou.

O jornalista também fez várias menções a conquistas do movimento negro ao longo deste anos, que lutou contra a falsa ideia de democracia racial no país. “Excluir a minoria é uma coisa, excluir a maioria é outra”, enfatizou, lembrando que os resultados do último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – que apontou que a maioria da população brasileira é negra (54,9%) – também é uma das conquistas do movimento negro brasileiro.

Douglas Belchior também lembrou de ações recentes de entidades e militantes negros e negras do país, entre elas as diversas manifestações contra a rede de supermercados Extra após o assassinato de Pedro Gonzaga, 19, morto por estrangulamento em uma unidade da marca no Rio de Janeiro.

Outra ação recente foi a articulação de várias organizações e movimentos populares, que protocolaram uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), sobre o pacote anticrime apresentado ao Congresso Nacional pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro.

O documento, que já está em análise, pede um posicionamento do órgão sobre as medidas e que disponibilizem um observador internacional para acompanhar o caso no Brasil.

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