O vereador Jhonatas Monteiro (PSOL), da cidade de Feira de Santana (BA), voltou a receber ameaças e ataques racistas após denunciar à Alma Preta Jornalismo ações truculentas da Guarda Municipal da cidade contra professores municipais que realizavam um protesto em frente à sede da prefeitura, em março deste ano.
A nova ameaça foi enviada no início de julho para o e-mail institucional do mandato do parlamentar. O conteúdo faz menção às ameaças anteriores e cita as denúncias feitas à Alma Preta.
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“Quer dizer que além de se juntar com os professores vagabundos de Feira de Santana pra fazer baderna na rua você foi reclamar num site chamado Alma Preta só porque te mandaram umas verdades pelo WhatsApp?”, diz um trecho do e-mail, enviado como forma de mensagem temporária.
Em seguida, o texto faz ataques racistas à Alma Preta ao chamar a equipe de “macacos pretos” e faz ameaças ao vereador e seus familiares.
“O nome Alma Preta desse site tá errado pois preto não tem alma. E lá trabalham um monte de macacos pretos. E seu apelido não devia ser Rasta, devia ser BOSTA por que você é um bosta e fede igual bosta, seu preto fedido […] Se você não parar de falar na imprensa a gente vai jogar gasolina em você e na sua família de macacos pretos fedidos”, diz o e-mail no qual a autoria é assinada como se fosse a Secretaria Municipal de Direitos Humanos da cidade de Feira de Santana.
À Alma Preta Jornalismo, o vereador Jhonatas Monteiro (PSOL) informou que abriu um boletim de ocorrência para registrar mais um caso e que passou a adotar estratégias pessoais para cuidar da segurança dele e da família.
“Desde abril a gente vem gastando uma energia nessa questão da segurança, pensamos medidas que alteraram o funcionamento do mandato, da rotina, da minha própria circulação pelo município. São algumas medidas que estão ao nosso alcance porque o ritmo das instituições responderem isso é muito moroso”, comenta Jhonatas Monteiro.
Desde a primeira ameaça, recebida em abril, o vereador e pré-candidato a deputado estadual foi incluído no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) e a Secretaria de Segurança Militante do PSOL – órgão recém criado pela Executiva Nacional do partido para lidar com os casos de violência contra sua militância e suas/seus parlamentares – foi acionada.
O parlamentar também critica a fragilidade dos programas de proteção a defensores de direitos humanos, como o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH).
“O programa passa por um cenário de desmonte nacionalmente. A equipe que vinha acompanhando, por exemplo, teve o contrato finalizado e passou a ser gerido diretamente pela própria secretaria aqui do Estado”, aponta o vereador.
Segundo o parlamentar, ainda não há informações concretas sobre a autoria dos ataques e se as novas ameaças têm relação com os episódios anteriores. Sobre as ameaças de abril, o vereador diz que a investigação policial já trabalha em uma linha de suspeita de autoria, mas ainda sem confirmação.
Entenda o caso
No dia 31 de março, professores da rede municipal de Feira de Santana, na Bahia, ocuparam o prédio da prefeitura para reivindicar reajuste salarial e outras melhorias para a categoria quando foram reprimidos com violência pela Guarda Municipal.
Na ocasião, a prefeitura disse que era contra o protesto dos docentes e acusou o grupo de danificar o patrimônio público e de interromper serviços.
“Diante dos ânimos exaltados dos manifestantes que invadiram o Paço Municipal Maria Quitéria, sede da Prefeitura, a Guarda Municipal agiu dentro do necessário para exclusivamente defender o patrimônio público, até porque o prédio é tombado como patrimônio histórico e cultural”, argumentou a prefeitura no dia do ocorrido.
Para o vereador Jhonatas Monteiro, por causa das violências sistemáticas dentro da gestão municipal, parlamentares envolvidos em lutas populares se veem mais expostos à violência política.
“A gente teve toda aquela violência dentro da Prefeitura e não houve, sequer, nenhum tipo de posicionamento do governo municipal para repudiar a violência. Pelo contrário, as declarações foram de endosso à violência e não teve nenhuma sindicância para apurar se teve abusos ou não. É uma situação que, na prática, legitima que essa violência continue ocorrendo”, finaliza o vereador.
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