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Professora negra concorre ao cargo de deputada federal

13 de julho de 2018

Com 23 anos de experiências em escolas e dois anos na política institucional, Adriana Vasconcellos quer entrar na Câmara dos Deputados para representar mulheres negras. Ela fala dos seus objetivos, inicio na carreira política e referências

Texto / Thalyta Martins
Imagem / Arquivo pessoal de Adriana Vasconcellos

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A Câmara dos Deputados conta com 513 parlamentares, entre os quais 81 se autodeclararam pardos e 22 pretos, segundo classificação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que passou a pedir aos eleitos informarem a cor da pele a partir de 2014, ano das últimas eleições. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia) apontam que 54% da população no país é negra.

Para representar esta parcela da população, Adriana Vasconcellos, professora de geografia e história há 23 anos na rede municipal de ensino em São Paulo, mestranda em educação pela PUC-SP e assessora parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo, no mandato do vereador Toninho Vespoli (PSOL), nas pastas negros e negras e educação, irá candidatar-se ao cargo de deputada federal pelo mesmo partido. Caso eleita, ela assume o mandato de quatro anos em 2019. A pré-candidata conversou com a equipe de reportagem do Alma Preta sobre carreira política, projetos e representatividade.

“Quando me vi fazendo projetos de leis para o nosso povo, fiquei extremamente feliz. Vi o quanto faz parte do sistema nos fazer acreditar que a política é algo muito distante. Pior: que não é para nós. As políticas públicas são fundamentais e acredito que devem ser feitas por e para nós. Chega de delegarmos as nossas vidas a quem não está verdadeiramente comprometido com as nossas causas”, disse.

Início da carreira política

Ao parafrasear o filósofo grego Aristóteles por meio da frase “o homem é um animal político”, Adriana Vasconcellos afirma que sempre fez política. No entanto, em 2016, quando Michel Temer, atual presidente do Brasil, assume interinamente e acaba com os Ministérios da Igualdade Racial, Mulher e Direitos Humanos, substituindo-os pelo Ministério da Justiça e da Cidadania, Adriana sente o desejo de ingressar na política institucional.

Como se não bastasse, Temer escolheu Alexandre de Moraes, ex-secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, para comandar o Ministério da Justiça e da Cidadania. Conhecido por respaldar a violência aplicada contra estudantes secundaristas e militantes do Movimento Passe Livre, Moraes passou a lidar com questões sensíveis e que demandam o mínimo de representatividade.

“Por aí, já vi que o alvo éramos nós e pensei: ‘temos de estar lá dentro, caso contrário, todas as nossas conquistas serão retiradas. Esses oligarcas da política velha, arcaica e com resquícios da escravização, não nos quer nos espaços de decisão.’”

Segundo Adriana, estes mesmos indivíduos, que historicamente têm e quase monopolizam o poder, perceberam a mudança significativa que pessoas negras tiveram com o acesso ao ensino superior, mestrado e doutorado, por exemplo.

“Eles, que sabem do nosso potencial e como conseguimos mover estruturas, quiseram nos barrar e fazer com que voltássemos à senzala. Mas não tem volta”, afirma.

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Adriana concorreu ao cargo de vereadora de São Paulo em 2016 (Foto: Eleições2016)

Sem nenhum conhecimento em relação à estruturação de uma candidatura e sem dinheiro, naquele ano de 2016, Adriana candidatou-se à vereança em São Paulo pelo PSOL. À época, dos 55 parlamentares da casa, apenas cinco eram mulheres.

“O que me impulsionou foi a possibilidade de fazermos políticas públicas para os nossos de maneira mais ampla, de nós, mulheres negras, que somos a base dessa sociedade, estarmos nos lugares de decisão, a fim de emanciparmos o nosso povo. Foi uma aventura e tanto! Tive de me multiplicar para estar nos lugares. Éramos eu e uma amiga. Conseguimos 5.279 votos, o que foi muito expressivo para uma primeira candidatura.”

Passada as eleições, Adriana foi convidada a ser assessora parlamentar no mandato do vereador Toninho Vespoli, do PSOL. Aceitou por sentir ser possível fazer política voltada à população negra na cidade. De acordo com ela, foi possível vivenciar todos os anseios que propunha em sua candidatura nesse cargo.

Objetivos para mandato de deputada federal

Adriana coloca-se com um “duto condutor de ideias e propostas construídas em conjunto com a população negra e com os povos originários”. Três pontos são cruciais para a discussão: mobilidade, educação e moradia. No entanto, de acordo com Adriana, o combate ao racismo estrutural será o pilar de seu mandato.

“Não podemos mais conviver com o genocídio da população negra e com o feminicídio, nos quais a maioria esmagadora das mulheres mortas é negra. Temos de falar sobre legalização do aborto, criminalização em relação ao racismo religioso, que afeta as matrizes africanas, e legalização da maconha.”

Elegendo representatividade

Quando questionada sobre as razões para ter escolhido o PSOL como partido político para lançar a candidatura, Vasconcellos aponta que se trata de partido sem envolvimento com corrupção, que não faz acordo de classes e luta por vida mais equitativa para mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras e negros e para a população mais pobre.

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Presidente estadual do PSOL, Juninho, e o vereador de São Paulo Toninho Vespoli também do PSOL (Foto: Arquivo pessoal do vereador)

Adriana acredita também que o PSOL é um partido que denuncia os desmandos de legendas que têm candidaturas e deliberadamente agem contra a população. Além disso, a sigla tem como presidente estadual de São Paulo Juninho, um homem negro de luta, e como presidenta municipal Michelle Vieira, mulher preta e com deficiência física.

“Para mim, isso é uma demonstração de que o debate em relação ao racismo e privilégio branco começa a ter escuta, já que é um partido branco. Em um partido de esquerda, isso é fundamental”, pondera.

Referências

Adriana aponta mulheres que a ajudaram direta e indiretamente a chegar onde está. Entre elas estão sua mãe, Maria Iva, Lélia Gonzalez, Dandara, Luiza Mahin, Clementina de Jesus, Benedita da Silva, Aqualtune, Chica da Silva, Djamila Ribeiro, Stephanie Ribeiro, Joice Berth, Maria Almeida – tia falecida em dezembro de 2017 – e todas as mulheres pretas anônimas que fazem esse país existir. Também todas ancestrais e as mães de santo que mantêm vivas a essência do matriarcado.

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Adriana Vasconcellos ao lado de sua mãe no lançamento da candidatura, que ocorreu no dia 27 de junho (Foto: Arquivo pessoal do vereador Toninho Vespoli)

“Tentaram nos silenciar por meio do assassinato de Marielle Franco, mulher negra, combativa, lésbica, favelada, mestra e vereadora – tudo o que eles não admitem que uma mulher negra seja. Mas ela está mais viva do que nunca e nos dando força para seguirmos em frente”, finaliza.

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