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‘Ricardo Nunes pouco fez pelo avanço de políticas públicas com recorte racial’, avalia cientista social

O cientista social Petrônio Domingues analisa o cenário político das prefeituras das capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador
O atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

Foto: Getty Images

9 de outubro de 2024

Mais de 120 milhões de brasileiros compareceram às urnas no último domingo (6) para escolher novos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em 5.569 municípios. Segundo as informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número corresponde a 78,29% do eleitorado.

Nas cidades de São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG), os atuais prefeitos Ricardo Nunes (MDB) e Fuad Noman (PSD) disputarão a reeleição no segundo turno, marcada para ocorrer no dia 27 de outubro, contra Guilherme Boulos (PSOL) e Bruno Engler (PL), respectivamente.

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Já o Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA), estão entre os municípios nos quais oito em cada dez prefeitos tentaram a reeleição, e desta forma, Eduardo Paes (PSD) e Bruno Reis (União Brasil) foram eleitos já no primeiro turno para assumir um novo mandato a partir de 2025.

Para analisar como essas disputas e vitórias impactam a vida da população negra desses territórios, a Alma Preta conversou com o cientista social Petrônio Domingues, mestre e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado pela Rugters – The State University of New Jersey (EUA) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O historiador analisou os feitos em São Paulo de Ricardo Nunes como prefeito, ressaltou como a agremiação partidária do PSOL, partido de Guilherme Boulos, é mais sensível ao debate da questão racial, e ainda pontuou o alto índice de rejeição entre as mulheres e os eleitores negros à candidatura de Pablo Marçal (PRTB).

“Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) preveem em seus planos de governo políticas voltadas à população negra. Resta saber se serão efetivadas ou não passarão de retóricas eleitoreiras. Tomando-se por base o primeiro mandato do Ricardo Nunes como prefeito, a coisa não é animadora, porque ele pouco fez em prol do avanço das políticas públicas com recorte racial”, analisa.

Na avaliação de Domingues, apesar da sensibilidade do PSOL ao tema, ainda assim, pouco se sabe sobre o nível de comprometimento de Boulos com a pauta racial. Mas o especialista frisou que, durante a campanha do primeiro turno, o candidato conhecido pela sua luta em prol da reforma agrária dialogou com setores do movimento negro, participou de encontros e até prometeu recriar a Secretaria de Igualdade Racial e ter a “maior proporção de negros no secretariado da história da cidade de São Paulo”.

“A chapa de Pablo Marçal (PRTB), candidato da extrema-direita, contava com uma candidatura negra a vice-prefeita, a policial militar Antônia de Jesus. Durante a campanha, Marçal chegou a se vangloriar disso – de ter uma mulher negra como vice da chapa -, mas suas propostas não previam atender às demandas específicas da população negra”, explicou o cientista social.

Belo Horizonte 

Em Belo Horizonte, o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), irá disputar o segundo turno com Bruno Engle (PL). O partido foi o que mais elegeu prefeitos no primeiro turno da eleição nos municípios com mais de 200 mil eleitores, foram dez.

“Fuad Noman (PSD), que concorre à reeleição, implementou políticas dirigidas à população negra no campo da assistência social e da educação. No entanto, no seu plano de governo para o segundo mandato, não apresenta novas propostas”, pontua o analista.

“Já Bruno Engler, do PL, não menciona a população negra no seu plano de governo. Na perspectiva dele, a população negra não existe, pelo menos nas regiões onde ele circula, ou não é merecedora de políticas públicas específicas de combate às desigualdades e à violência”, critica Petrônio Domingues.

Rio de Janeiro 

No Rio, Eduardo Paes (PSD) confirmou o favoritismo e foi eleito com 60,47% dos votos válidos, o que resultou na segunda colocação de mais um candidato do PL, Alexandre Ramagem. 

Domingues recorda que Eduardo Paes, antes de ser eleito prefeito em 2020, prometeu  nomear pessoas negras engajadas para o seu secretariado e para as secretarias de Cultura e Igualdade Racial, além de ampliar políticas públicas voltadas à comunidade negra, mas não cumpriu.

“Os acenos de Eduardo Paes à pauta do movimento negro são episódicas, casuísticas até, portanto, agora que reeleito, pouco se pode esperar dele em matéria de compromisso com uma agenda de promoção da igualdade racial na cidade do Rio de Janeiro”, diz.

Salvador

Em Salvador, Bruno Reis (União Brasil) foi reeleito com quase 80% dos votos válidos, uma diferença enorme para o segundo colocado, Kleber Rosa (PSOL), que obteve 10,43%.

“Bruno Reis (União Brasil) havia se declarado ‘pardo’ durante o pleito eleitoral de 2020, quando concorreu pela primeira vez para prefeito; agora, nesta eleição, declarou-se branco, alegando não querer se beneficiar do fundo eleitoral para candidaturas negras (pretas e pardas)”, observa Domingos. 

O historiador pontua que, durante o seu primeiro mandato e mesmo durante a campanha, Reis fez poucos acenos à população negra. “Por isso, não há muito o que se esperar desse seu novo mandato em termos de políticas públicas de combate ao racismo”, ressalta.

Por outro lado, o especialista aponta como positivo algumas candidaturas eleitas para o poder legislativo na capital baiana, como a de Eliete Paraguassu (PSOL), que foi a primeira vereadora quilombola eleita na cidade, além de Hamilton Assis (PSOL) e Marta Rodrigues (PT).

“A vitória das três candidaturas comprometidas com a agenda do movimento negro, é um sinal de que o trabalho de base e coletivo, da militância, talvez seja a melhor estratégia na busca do empoderamento político-eleitoral para as pessoas negras das classes subalternas”, frisa.

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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