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33 anos de ativismo; Conheça a história da Unegro

Entidade criada em Salvador tem história marcada por atuações em defesa dos direitos da população negra e transformações nas políticas sociais

Texto: Dindara Ribeiro | Edição: Lenne Ferreira | Foto: Divulgação

UNEGRO-site

14 de julho de 2021

Foi na Salvador de 1988, dentro da Biblioteca Pública dos Barris, que surgiu a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro). Faziam apenas três anos que o Brasil havia saído da repressão e autoritarismo da Ditadura Militar (1964-1985) e o fervor por liberdade e democracia tomavam conta das ruas. Diante desse cenário de entusiasmo revolucionário, a entidade, criada por negras e negros marxistas, tornou as ruas como o seu principal campo de atuação, realizando ações contra o extermínio da população negra e na luta antirracista, de gênero e classe. Trinta e três anos depois, a entidade ainda precisa lutar por problemas que já poderiam ter sido superados se as raízes do  racismo não fossem tão profundas no país. 

Entre os principais objetivos da Unegro estão a defesa dos direitos culturais da população negra, a luta contra o racismo em todas as formas de expressão e a defesa de uma sociedade justa, sem exploração de classe, raça ou gênero. As pautas também centralizam as mulheres negras no centro da estrutura social. À Alma Preta, a vice-presidenta da Unegro na Bahia, Marina Duarte, parafraseou a ativista e filósofa Angela Davis para representar a importância da ocupação das mulheres negras nos mais diversos espaços.

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“Quando a gente mexe com a base da pirâmide, que somos nós, mulheres negras, a gente desmonta uma estrutura perversa, capitalista, machista, patriarcal. Quando a gente empodera uma mulher negra, a gente empodera uma família”.

Durante os 33 anos de trajetória, a Unegro ampliou a sua atuação para mais de 20 estados e no Distrito Federal. Na Bahia, além de Salvador, a Unegro segue presente nas cidades de Feira de Santana, Camaçari, Dias D’Ávila, Paulo Afonso, Simões Filho, Santo Amaro, Valença, Ilhéus e mais sete municípios.

Sua história também abrange as principais frentes sociais, tanto estaduais quanto governamentais: compôs os conselhos de políticas governamentais, como o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Conselho Nacional de Políticas de Juventude e o Conselho Nacional de Política Cultural; de comissões para o monitoramento de políticas públicas por meio do Programa Brasil Sem Miséria (2012) e o Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas; de seminários a exemplo do “Criança e Aids”, em 1990, que discutiu a incidência da doença na população infantil quando o assunto era considerado um tabu.

No âmbito internacional, participou da construção das conferências preparatórias da Conferência Mundial Contra o Racismo, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na cidade de Durban, na África do Sul, e fez parte da delegação brasileira na Conferência Mundial na África do Sul. A atuação internacional, inclusive, levou a Unegro a receber o prêmio “Rescate de Valores Culturales” (Resgate de valores culturais), da organização chilena Corparación Procasur, especializada na coleta e ampliação de inovações locais.

Uma das inúmeras campanhas de destaque da Unegro foi “Brasil São Outros 500”, em 2000, movimento contrário à campanha neoliberal do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). A campanha contou com a atuação de movimentos negros, indígenas e populares e iniciou o novo milênio com as suas próprias agendas de reivindicação.

Em novembro de 1995, realizou a “Marcha de 300 anos de Imortalidade de Zumbi dos Palmares”, em Brasília, que pressionou o então presidente FHC a implantar políticas públicas para a população negra. O manifesto reuniu cerca de 30 mil pessoas e resultou no decreto que institui o Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra.

MARCHA ZUMBIMarcha mobilizou cerca de 30 mil pessoas em prol de políticas públicas para a população negra | Foto: Fernando Cruz / Acervo CSBH/FPA

Logo após entrar na presidência, em 2003, o ex-presidente Lula sanciona a lei 10.639/2003, que modifica a Lei de Diretrizes e Bases e torna obrigatório o ensino da história africana e afro-brasileira nas escolas públicas e privadas. Um importante passo para o reconhecimento dos movimentos de luta na inclusão dos estudos afro na matriz curricular dos ensinos médio e fundamental.

No cenário pandêmico, a Unegro tem realizado campanhas político-sociais voltadas para a população em situação de vulnerabilidade. Na campanha Panela Cheia, distribuiu mais de mil cestas básicas dentro do projeto e dentro das comunidades, além da atuação na campanha “Bolsa Mãe de Favela”, da Central Única das Favelas (CUFA), que auxilia mães solo moradoras de favelas em 17 estados e no DF durante a pandemia do novo coronavírus.

Homenagens

Uma das principais representantes da Unegro, a deputada baiana Olívia Santana (PCdoB) foi uma das fundadoras e presidenta da entidade. Eleita a primeira mulher negra ao cargo na Bahia, Olívia também comemora os 33 anos da entidade.

“Colaborei com a fundação e já fui presidenta da entidade, que nasceu em Salvador. A Unegro acredita que raça, classe e gênero são inseparáveis na luta contra o racismo no Brasil. Um viva a quem fez parte e faz parte dessa construção, sigamos em luta por toda uma agenda de igualdade de direitos e oportunidades”.

OLIVIA UNEGRO siteA primeira deputada negra na Bahia, Olívia Santana, foi uma das fundadoras da Unegro

Ângela Guimarães também é uma das figuras de importância na história da entidade. Eleita presidente nacional da Unegro em 2016, Ângela acredita na entidade como um instrumento que promove mudança social e estrutural.

“Ao longo das décadas, organizando a luta contra o racismo, as desigualdades de gênero e contra a exploração capitalista, denunciando a falsa democracia racial e o genocídio da população negra, a Unegro tem sido instrumento efetivo de elevação das consciências antirracismo, ampliação do debate público sobre desigualdades raciais, organização política da população negra bem como de articulação de importantes frentes políticas em torno das grandes e estratégicas lutas do movimento negro brasileiro”.

angela guimaraes unegro“A Unegro tem sido instrumento efetivo de elevação das consciências antirracismo” | Foto: Ras Pareta Calderasch/Unidas

Para o presidente da Unegro na Bahia, Eldon Neves, a trajetória da Unegro ainda tem muito caminho a seguir na busca pela equidade e na luta antirracista.

“Ter 33 anos de luta ininterrupta e entender que a responsabilidade só aumenta e que a mais de três décadas estamos dando resultados para conjunto da população negra no Brasil e que precisamos avançar ainda mais, nos fortalecer para construção de sociedade antirracista e com equidade de Raça e Gênero para mulheres e homens negros”.

ELDON NEVES“A mais de três décadas estamos dando resultados para conjunto da população negra no Brasil” | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Marina Duarte, vice-presidenta da Unegro, faz parte da terceira geração da militância da entidade. Para ela, o movimento de entidades que fortalecem a luta do povo negro é fundamental para construir uma sociedade mais justa e que dê oportunidades para os grupos menos favorecidos.

“O que eu espero é que a gente nunca sucumba, que a gente nunca desista. Nós tivemos mais de 300 anos de escravidão e essa falsa liberdade nunca nos deu direitos, só nos tirou e nos colocou em um quadro de marginais: nossas danças, nossa cultura […] A luta precisa ser uma estratégia de luta. Não existe uma solução individual. A solução precisa ser coletiva. A gente precisa se organizar, formar os nossos politicamente e levar a pauta antirracista para os quatro cantos”.

marina duarte“O que eu espero é que a gente nunca sucumba, que a gente nunca desista” | Foto: Arquivo Pessoal

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  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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