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“Vai para o cemitério”, movimento negro protocola pedido de explicação por fala de João Dória

21 de janeiro de 2019

Uneafro Brasil exigiu respostas do governador sobre afirmação de que: “Se ele [bandido] reagir, ele vai para o cemitério”; colocação pode incentivar o aumento da letalidade policial em São Paulo, segundo Douglas Belchior

Texto / Pedro Borges
Imagem / GOVESP

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A Uneafro Brasil, organização do movimento negro, protocolou no dia 18 de Janeiro, sexta-feira, um pedido de respostas para o governador do estado de São Paulo, João Dória. O documento se refere à declaração dada pelo político no dia 11 de Janeiro, quando disse que “a orientação da polícia militar é imobilizar o bandido, se ele reagir ele vai para o cemitério”.

O documento, que recorda a inexistência de pena de morte no Brasil e lembra os elevados indicadores de letalidade policial em São Paulo, interroga João Dória sobre uma possível orientação para os policiais utilizarem da violência desproporcional e desrespeitarem o método Giraldi, doutrina adotada pela corporação desde 2002 com o intuito de diminuir os índices de morte em atuação policial. Segundo a técnica, o agente de segurança pública atiraria para frear o criminoso e garantir a vida do mesmo.

“O Policial Militar não aperta o gatilho sozinho. Antes há uma permissão, quase sempre subjetiva, de seus superiores e da própria sociedade para que ele tenha uma conduta mais ou menos autoritária e violenta. Isso impõe, para além de tudo, uma pressão ao policial para que ele demonstre serviço”, afirma Douglas Belchior, coordenador da Uneafro e o responsável pelo envio da carta.

Em relatório divulgado em 13 de Agosto de 2018, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo identificou excessos em 74% das ocorrências em que policiais mataram civis durante supostos confrontos em 2017, ano em que a letalidade policial foi a maior da série histórica, com 940 mortes de civis em 2017.

Douglas recorda que esse não é o primeiro governador a adotar um discurso bélico e que as principais vítimas diante desse processo devem ser os jovens negros.

“O governador deveria investir numa policia inteligente, se antecipando aos crimes, que negocie rendições, que desarme o oponente sem feri-lo ou atirando preventivamente como ensina o método Giraldi. Sabemos bem quais corpos querem mandar para o cemitério. É a população negra e periférica o alvo. Não é o primeiro governador fascista a fazer uso do discurso e de práticas bélicas em SP. Maluf, Fleury e Alckmin, com melhores modos e etiqueta, sempre fizeram assim. Resultado: SP tem umas das polícias que mais mata no mundo. E a tendência é piorar. Não podemos admitir”.

Entre as exigências, a Uneafro cobra um posicionamento por escrito de todos os questionamentos e uma retratação pública por parte do governador.

O material também foi direcionado ao General João Camilo Pires de Campos, Secretário de Estado da Segurança Pública, e Walter Nyakas Júnior, Secretário Chefe da Casa Militar e Coordenador da Defesa Civil do Estado, com cópia a Gianpaolo Poggio Smanio, Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, e Benedito Domingos Mariano, Ouvidoria das Polícias do Estado de SP.

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