Militar da reserva da Marinha é o primeiro negro nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para compor o alto escalão do governo; Carlos Alberto Decotelli disse que vai evitar “comprometimentos ideológicos ou políticos”
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Divulgação
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A nomeação do economista e professor Carlos Alberto Decotelli para chefiar o Ministério da Educação (MEC) é marcada pelo fato de se tratar do primeiro negro a ocupar um cargo no alto escalão do governo de Jair Bolsonaro (Sem partido). Com currículo e experiência no setor, Decotelli já foi presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e é oficial da reserva da Marinha, ou seja, o 11º militar a compor a equipe do presidente.
“Enquanto movimento negro, vamos cobrar políticas educacionais comprometidas com a diversidade e inclusão, tal qual faríamos com qualquer outro”, afirma o educador Douglas Belchior, integrante da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra Por Direitos.
“A cor da pele não define o nem caráter, nem a ideologia. O novo ministro é um militar alinhado com Bolsonaro, tem perfil conservador e é comprometido com os interesses do mercado. É um ministro do governo Bolsonaro que, por sua vez, já demonstrou que ministros que não se alinham ao bolsonarismo têm vida curta no governo”, acrescenta Belchior.
A chegada de Decotelli ao Ministério da Educação ocorreu também poucos dias foi após a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação e um ataque do governo contra as ações afirmativas na área educacional. Antes de deixar a pasta, Weintraub publicou uma portaria, já revogada, que retirava a criação de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação.
“Desde a campanha, o Bolsonaro defende um projeto de desconstrução da escola pública no Brasil, seja pela redução nos investimentos ou seja pela extinção das políticas públicas e projetos de pautas identitárias. Ele coloca a política de cotas como uma antítese da meritocracia. Assim como acontece na Fundação Palmares, o presidente escolheu um negro para implantar uma agenda contra as pautas do movimento negro e contra a democracia”, diz Macaé Evaristo, educadora e ex-secretária de Educação de Minas Gerais de de Belo Horizonte.
O jurista e filósofo Silvio Almeida, autor do livro “O que é racismo estrutural?” comentou no Twitter a troca da liderança do Ministério da Educação e seus desdobramentos. “O novo ministro será o tempo todo questionado por seu pertencimento racial e, não serão os ‘progressistas’ a fazer isso: serão o próprio governo e seus apoiadores que irão levantar a questão toda vez que uma crítica, mesmo técnica, for feita ao Ministério da Educação”, escreveu o jurista. “Com isso, joga-se um peso nas costas do indivíduo racializado, que não será analisado apenas por seu desempenho. E isso interessa a um governo que vê a educação como parte de uma disputa ideológica e não como projeto de nação”, complementou.
Após Jair Bolsonaro anunciar o nome de Decotelli, na tarde de 25 de junho, a imprensa repercutiu uma licitação com irregularidades no valor de R$ 3 milhões e investigada pelo Controladoria-Geral da União (CGU) em agosto de 219. O caso, que teve aval de Decotelli, teria sido o motivo da saída dele do FNDE e a suspensão da licitação. O atual ministro, segundo a investigação da CGU, teria liberado a compra de 30 mil laptops para uma escola em Minas Gerais que tinha apenas 255 alunos.
Durante entrevista coletiva, Decotelli disse que é um gestor técnico e que vai conduzir o ministério da Educação com uma agenda técnica e sem o que ele chamou de “comprometimentos ideológicos ou políticos”. Em um ano e meio de governo, este é o terceiro ministro da Educação nomeado por Bolsonaro.