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Vereadora executada queria enegrecer câmara de vereadores do RJ

16 de março de 2018

Conhecida pela luta das mulheres negras, dos favelados e contra violência policial, Marielle Franco deixa como legado gritos pedindo justiça, liberdade e dignidade para população negra  

Texto / Thalyta Martina
Imagem / Acervo Marielle Franco

Marielle Franco, a vereadora assassinada no dia 14 de Março, nasceu em julho de 1979 no Complexo da Maré, o agrupamento de 16 favelas onde moram mais de 130 mil pessoas localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela foi mulher negra, cria da favela, como ela denominava-se, mãe, sua filha tem 19 anos, feminista, militante em diversas causas sociais, socióloga, educadora infantil, pesquisadora, administradora pública e professora.

Marielle Francisco da Silva, mais conhecida como Marielle Franco, ingressou na faculdade de Ciências Sociais com bolsa integral na PUC Rio em 2002 depois de dois anos em um cursinho pré-vestibular comunitário na Maré. Ela fez mestrado em administração pública na Universidade Federal Fluminense. A sua dissertação foi sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s). Ela teve trajetória marcada pela luta pelos direitos humanos.

Vida política

Em 2005 ingressou na política motivada pela dor de perder uma amiga vítima de bala perdida durante confronto envolvendo tiros entre policiais e traficantes no lugar onde morava. Essa militância a levou para fazer campanha para Marcelo Freixo, ex professor de história da sua irmã. A campanha “Não quero meu dinheiro no caveirão, quero meu dinheiro na educação” rendeu, em 2006, a eleição de Freixo para deputado estadual, e a ela o cargo de assessora parlamentar do político. Depois, em 2009, assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. 

Em 2016, se elegeu pelo PSOL como a segunda mulher mais votada de 51 vereadores eleitos e a quinta mais votada de todos os escolhidos, com 46.502 votos, no Rio de Janeiro. Ela passou a integrar a presidência da Comissão da Mulher e, mais recentemente, desde o dia 28 de fevereiro, foi nomeada relatora da Comissão da Câmara Municipal de vereadores que fiscaliza a intervenção militar no estado.

Em entrevista à Revista Subjetiva em maio de 2017, Marielle falou que seu objetivo era tirar a Câmara do lugar de castelo. Ela disse “que ocupemos bem no sentido de dialogar, apresentar política, ter elemento qualificado, ocupar essa Casa de uma maneira a desmistificar esse lugar onde muitas das vezes as pessoas tem dificuldade, tem medo, não vem (a Câmara). (…) que as pessoas possam ocupar de favelado, ocupar de negros e negras, ocupar de mulheres trans, ocupar com tudo que se tem direito. E assim essas pautas, essas temáticas estejam presentes também na Comissão de Defesa da Mulher, que é o que estamos presidindo. (…) As pretensões é que essa Casa seja mais favelizada, mais enegrecida, que tenham mais mulheres, e das identidades e gêneros mais amplas. (…) é o que falamos, de que uma vem e puxa a outra, este é um lema principalmente das mulheres negras, com as mulheres negras participando de vários espaços, com seus turbantes, com sua orientação sexual, ocupando este espaço que no geral, infelizmente, ainda é muito negado.”

Denunciar a morte violenta de seus pares, denunciar a violência policial nas favelas, representar mulheres, principalmente mulheres negras, e defender suas vidas e direito ao corpo em vários espaços, defender os direitos humanos, promover discussões sobre raça e gênero, falar da negritude foi o que Marielle fez durante o seu mandato. No dia 10, por exemplo, ela denunciou, em seu perfil de redes sociais, um relato no qual expunha que policiais do 41º Batalhão de Polícia Militar haviam cometido abusos de autoridade contra os moradores do bairro de Acari, bairro de classe baixa e classe média baixa do Rio de Janeiro. 

“Sábado de terror em Acari! O 41° batalhão é conhecido como Batalhão da Morte. É assim que sempre operou a polícia militar do Rio de Janeiro e agora opera ainda mais forte com a intervenção”, escreveu nas redes sociais.

O caso

No dia 14 de março, Marielle Franco, 38 anos, foi assassinada a tiros no bairro Estácio, no centro do Rio de Janeiro. O motorista Anderson Pedro M. Gomes, de 39 anos, que dirigia o veículo também morreu vítima das balas. Marielle voltava do evento “Jovens Negras Movendo Estruturas“, que ocorreu na Rua dos Inválidos, 122, na Lapa, com o motorista e uma assessora.

Foram nove disparos contra o carro, dos quais quatro acertaram a vereadora, três na cabeça e um no pescoço; o motorista, Anderson, morreu com três tiros nas costas. A assessora não foi atingida pelos disparos e está no hospital por conta dos estilhaços dos vidros quebrados que voaram nela. Nada foi levado do carro ou dos passageiros.

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