Eleito vereador mais jovem e o primeiro assumidamente LGBT da cidade de Olinda, no Grande Recife, Vinicius Castello (PT-PE), 27 anos, quer ampliar ainda mais os projetos progressistas que vem desenvolvendo na Câmara Municipal para todo Pernambuco. Nas eleições deste ano, o advogado por formação concorre pela primeira vez a uma vaga na Assembleia Legislativa e tem a esperança de repetir a expressiva vitória que teve em 2020 – quando ganhou o pleito como vereador mais votado do partido.
Em entrevista à Alma Preta Jornalismo, Vini Castello – como popularmente é conhecido em Pernambuco – define a política como desafiadora, isso porque, ao entrar na política institucional, teve que lidar com diversos ataques. Um exemplo disso, aconteceu recentemente, no último mês de julho, quando o vereador Jojó Guerra (PL-PE) o chamou de “viado” ao falar sobre um projeto de lei que previa a proibição da discriminação pela orientação sexual e de gênero em Olinda.
“Foi difícil e ainda é desafiador, pois as pessoas não estão acostumadas com a política que faço. Sou atacado pela minha sexualidade, mas eu não abaixo a minha cabeça para qualquer tipo de preconceito ou para quem acredita que minha existência e minha sexualidade não me façam um representante da sociedade olindense e pernambucana”, pontua o candidato.
Vini Castello ressalta que entrou na política para trabalhar para o povo e para deixar os espaços de poder mais plural. “Ser uma pessoa assumidamente LGBT não significa dizer que estou à margem de pautar sobre os interesses do nosso povo. Sou perseguido por isso, mas não vou negar minha existência para agradar os outros. Continuarei trabalhando de forma honesta e transparente para representar as potências que me escolheram para ocupar um espaço que também é delas”, defende.
Quando questionado sobre a importância de se ter uma candidatura que represente os marcadores que ele carrega desde seu nascimento, Vini comenta que, durante muito tempo, a população dependia das escolhas dos outros. Por isso, ele decidiu se candidatar: para promover uma ruptura com essa tradição de que só quem pode ocupar esse espaço é a branquitude conservadora.
“Sou candidato a deputado estadual hoje não apenas por enxergar uma possibilidade de ampliar o que tenho feito como vereador, mas também por uma demanda de várias pessoas que constroem comigo, que me incentivaram e me pediram para encarar esse desafio. Por isso, essa candidatura não é sobre mim, mas sobre nós, sobre muita gente que tenho dialogado, que tem me apoiado e que me vê como parte de um processo político necessário e urgente”.
Luta antirracista
Como vereador, Vini conseguiu visibilidade nacional ao aprovar pela primeira vez no Brasil um projeto de lei que proíbe homenagens a escravocratas e pessoas ligadas ao regime da ditadura militar no Brasil.
A proposta foi inspirada no projeto sugerido pela deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP) e adaptada para a histórica cidade de Olinda. “Lá [em São Paulo], devido aos inúmeros entraves, a proposta não avançou. Mas pudemos construir a aprovação aqui em Olinda, gerando esse marco histórico fundamental não só para o povo negro, mas em defesa da democracia, uma vez que é inadmissível que processos históricos marcados pelo sofrimento, pela barbárie sejam eternizados em monumentos, nomes de ruas, escolas”, comenta.
Ele comemora a replicação do projeto de lei em outras cidades do Brasil. “Olinda é uma cidade histórica fundada em escravização. Chega a ser massacrante imaginar que negros e negras derramaram sangue e suor para construir essas ruas e ladeiras e, mesmo após tudo isso, ainda temos os nomes de nossos algozes homenageados. Então, hoje, ver esse projeto sendo replicado em outros municípios e utilizando nosso projeto como referência e como precedente legislativo, é extremamente reconfortante e também estimulante para continuar nessa caminhada”.
Esta, inclusive, não é a primeira proposição antirracista de Vinicius Castello aprovada na Câmara de Vereadores de Olinda. O então candidato a deputado estadual relembra o “Educar pela Igualdade Racial”, o primeiro projeto na luta contra a violência racial.
“É na educação básica que vamos conseguir interferir na humanização de corpos negros e negras e na trajetória histórica dessas vidas. Temos uma sociedade constituída majoritariamente por pessoas pretas, no entanto, quando observamos a estrutura dessa sociedade, nós, negros e negras, ainda ocupamos lugares de subalternidade”, reflete.
Além desses, outros projetos de sua autoria com essa mesma vertente têm virado pauta na Câmara, como o Estatuto de Igualdade Étnico-Racial, o Dia da Favela, o Dia Menino Miguel – em combate ao genocídio de crianças negras- e o Estatuto de Liberdade Religiosa.
Trajetória política
O vereador é “cria” da periferia de Olinda. Foi na Barreira do Rosário, local onde nasceu e cresceu, que Vinicius Castello sentiu a necessidade de representar o povo menos favorecido da sociedade. Aos 15 anos, ainda no Ensino Médio, ele entrou no movimento estudantil, sendo presidente do Grêmio do colégio onde estudava.
“Essa desmotivação com a política também é um projeto para deixar que as mesmas pessoas continuem ocupando os espaços de sempre. Nesse meio tempo, estudei muito e me formei em Direito. Na universidade, junto a amigos e amigas, fundei o coletivo Quilombo Marielle Franco e uma das coisas que mais me orgulha é que a gente conseguiu mais de 2 mil bolsas integrais para pessoas negras, indígenas e que vieram de escolas públicas”, relembra.
Daquele momento, Vini Castello foi enxergando que a política institucional precisava ser renovada para suprir a carência de se ter um representante negro, periférico, LGBT que desse voz a esses grupos. Conseguiu. Desde 2020, o mandato dele na Câmara dos Vereadores tem se destacado.
“Na Câmara, me tornei presidente da Comissão de Direitos Humanos, pautei diferentes assuntos em defesa das minorias sobre a chuva, falta d’água, implementei políticas de combate ao câncer infantil e violência contra a mulher. Aprovamos o Estatuto Municipal de Igualdade Étnico-Racial, o primeiro do país a incluir os povos ciganos e indígenas em contexto urbano, e o primeiro Estatuto Municipal de Liberdade Religiosa. Sou o parlamentar que mais aprova projetos antirracistas em Pernambuco e quero ampliar ainda mais essas propostas como deputado estadual”, lista.
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