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A morte da rainha, o racismo e as eleições no Brasil

Funeral da rainha aconteceu nesta segunda (18); Regina Lúcia dos Santos e Milton Barbosa traçam paralelos com as Eleições 2022

Imagem: Jeff J Mitchell/POOL/AFP

Foto: Imagem: Jeff J Mitchell/POOL/AFP

19 de setembro de 2022

No último dia 8 de setembro, morreu a rainha Elizabeth II e nós assistimos a mídia hegemônica brasileira fazer um réquiem de dias. Além de declarações de muitas personalidades num esforço de sacralizar o nome de uma monarca que era a representante maior de uma casa real responsável por um processo de racismo, colonização e neo colonização dos mais perversos e sanguinários da história da humanidade na África, Américas, Ásia e Oceania.

Nos anos de reinado de Elizabeth II, a Inglaterra foi responsável por diversos conflitos de exploração das riquezas naturais, colaborar com a implantação e manutenção do apartheid na África do Sul, além de dificultar os processos de libertação colonial em vários países africanos. Este esforço de sacralização nos dá a medida de como temos uma cultura subalternizada, colonialista. Se pensarmos que, entre 1550 e 1850, de cada 100 pessoas que entravam no Brasil, 86 eram africanos escravizados e até 1807 a Inglaterra era das maiores responsáveis pelo tráfico negreiro, chegaremos a conclusão que o Brasil é um país formado por africanos, que nada conhece da África e da história de sua colonização e isto nos causa maior aversão ainda a este incensamento a uma representante máxima deste processo.

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Trazendo este fato para o Brasil hoje, isso nos faz ficar muito mais indignados com vários acontecimentos deste nosso período eleitoral. Comecemos por pensar o burburinho causado pela fala de Lula sobre o comício eleitoral de 7 de Setembro do atual presidente parecer uma manifestação da Ku Klux Klan pela quase inexistência de negros e pobres, o que era um fato mensurável a olho nu. Depois pensar num vídeo que inundou as redes sociais: de um eleitor do atual presidente humilhando uma mulher da periferia da cidade de Itapeva (SP), que manifestou seu voto em Lula e foi avisada que aquela seria a última marmita que receberia por ter manifestado seu apoio. E por fim e não menos grave, o TRE de São Paulo proibir a foto na urna de Douglas Belchior (PT-SP), candidato a deputado federal, com boné e o TRE do Pará ter intimado Livia Noronha (PSOL-PA), candidata a deputada estadual, a mudar sua foto da urna por estar de turbante. Em tempo, o TSE reconheceu que o uso do boné por Douglas Belchior faz parte da identidade cultural de jovens das periferias urbanas, concedendo-lhe liminar que permite a manutenção do boné na sua foto da urna. Todos estes fatos nos traz a dimensão da violência racial neste país, nos mostra que o racismo brasileiro tem capilaridade em todos os setores da nossa vida cotidiana.

Nestas eleições, nós temos a chance de mudar o panorama do parlamento brasileiro nas Assembléias Estaduais e no Congresso Federal, para isso temos que empenhar nossos votos em deputadas/es/os federais e estaduais negros que tenham história de luta e compromisso com a pauta do movimento negro de enfrentamento ao racismo. O pontapé inicial foi a criação da campanha Quilombo nos Parlamentos que busca trazer uma nova cara no fazer político do Brasil.

*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa é um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU.

Leia também: Eleições 2022: Se trata da luta contra o racismo, é sobre nossa vida

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