Há 21 anos, o governo brasileiro lançou o programa Luz para Todos, com a promessa de levar energia elétrica a todas as regiões rurais e remotas do país. No entanto, essa luz ainda não chegou a moradores de algumas comunidades quilombolas, incluindo eu.
Eu era uma criança quando o presidente Lula visitou nossa comunidade, Kalunga, no Engenho II, em Cavalcante (GO). Lembro-me das histórias que minhas primas contavam sobre a visita do presidente e das promessas feitas. O programa tinha como objetivo inicial levar energia a mais de 2 mil unidades rurais identificadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas muitos outros domicílios sem energia foram incluídos, o que gerou diversas prorrogações.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Em 2018, o programa foi prorrogado até o final de 2022, mas novamente não conseguiu atingir seus objetivos. Naquele ano, a população quilombola foi inserida no programa. Em 2023, foi relançado, mas mesmo assim muitas pessoas continuam sem acesso à energia elétrica em pleno 2025.
Enquanto o Brasil discute energia renovável e transição energética, parte da população quilombola continua no escuro. A falta de eletricidade impacta diretamente a qualidade de vida dos moradores, dificultando atividades cotidianas e o desenvolvimento econômico local.
Na minha comunidade, Kalunga, no nordeste goiano, mais de 100 famílias na Região do Vão do Moleque, incluindo a minha, ainda vivem sem luz. O território Kalunga foi reconhecido como Comunidade Quilombola em 2004 e, no entanto, a luz ainda não chegou para todos.
Após diversas tentativas para garantir energia à comunidade, entre a venda e troca de concessionárias energéticas no estado de Goiás, o problema da falta de energia persiste para algumas famílias. Em 2019, resistimos à construção da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Santa Mônica, que prometia energia elétrica, mas a que custo? O deslocamento de famílias e a destruição do nosso meio de vida seriam devastadores.
No estado do Pará, linhões de energia cortam territórios quilombolas, privando seus moradores do acesso à energia elétrica. Em 2024, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) constatou que cerca de 46 comunidades ainda estão sem acesso à energia elétrica, afetando mais de 2.800 famílias quilombolas.
A CONAQ trabalha para evidenciar a real situação dos avanços e desafios na implementação dessa política essencial. Essa é a realidade de diversas comunidades quilombolas no Brasil, que, ao protegerem seus territórios, são privadas de direitos básicos.