As principais praias e avenidas do Brasil ficarão lotadas na passagem do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro. A celebração, uma das mais aguardadas no país, é marcada por símbolos influenciados pelas tradições de matriz africana no Brasil, o mesmo país que associa Exú à maldade e criminaliza o culto ancestral de pessoas negras.
Como de costume, a maioria das pessoas vai vestir roupas brancas, com o desejo de alcançar a paz no ano que chega. O branco e a paz estão associados ao orixá Oxalá, representado por um homem mais velho, sábio, que tem está associado à tranquilidade e serenidade.
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Não à toa, às sextas-feiras, dia em que se celebra Oxalá no Brasil para os praticantes das tradições de matriz africana, usam-se roupas brancas.
No fim do ano, há ainda a famosa tradição de pular as sete ondas, com pedidos a serem realizados no próximo ano. Há também o costume, em cidades litorâneas, de fazer oferendas ao maior. Os gestos são atos de conexão com Yemanjá, a rainha do mar, descrita na tradição como a mãe dos orixás.
Há ainda quem prefira virar o ano vestido de amarelo, como forma de atrair riquezas e dinheiro. O amarelo dourado é a cor de Oxum, a orixá da beleza e das riquezas.
Apesar da presença dos orixás nos gestos nas celebrações de fim de ano, o Brasil segue como um país perigoso para os praticantes das tradições de matriz africana.
Somente no primeiro semestre de 2024, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos registrou 1940 casos de violações de liberdade religiosa. Das 575 oportunidades em que a vítima foi identificada na denúncia, em 276 os alvos eram ligados às religiões de matriz africana.
O país vive o fortalecimento de um discurso agressivo e racista de parte da igreja evangélica que demoniza os orixás e associa as tradições de matriz africana a tudo de ruim, inclusive com acusações de que Exú é o diabo.
Mesmo que nas tradições de matriz africana não exista uma figura como o diabo, não exista uma entidade que representa o mal, como acontece no cristianismo e no evangelho.
O fato, que de longe pode parecer uma contradição, é, na verdade, bastante coeso com o racismo brasileiro e a ideia de que vivemos em uma democracia racial.
O mito da democracia racial é o que permite a utilização de símbolos da cultura negra, de criação de relações de amizade e até amorosas com pessoas negras, ao mesmo tempo em que a violência contra esse povo é naturalizada. No plano das religiões não é diferente.
Independente dos ataques a tradições de matriz africana, como candomblé e umbanda, seguem como elementos fundamentais para a resistência negra. Sem a fé nos orixás, talvez nem estivéssemos aqui.