Seu Vermelho, um homem negro de 89 anos, foi assassinado a machadadas no dia 25 de Novembro. Juarez Xavier, homem negro de 60 anos, xingado de macaco e esfaqueado no 20 de Novembro, dia da Consciência Negra.
O nível de tensionamento racial no Brasil tem crescido, apesar do discurso oficial de que o país vive sob uma suposta e falaciosa democracia racial. A responsabilidade desse momento é toda da atual política adotada pelos governos federal e estaduais e nunca do movimento negro, quem denuncia esses atos de violência. Jamais ouviu-se notícia de que uma pessoa branca foi assassinada no Brasil por um ativista antirracista.
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Projetos que concentram a renda como as reformas da previdência e trabalhista colocam grupos já marginalizados socialmente em maior condição de vulnerabilidade social. Sem emprego, sem assistência previdenciária, sem qualquer amparo legal por parte do estado, negras e negros são cada vez mais colocados como alvos prioritários da violência de Estado.
A equação adotada pelo Brasil é a mesma de países como Chile, que em período recente teve manifestações massivas contra a política neoliberal. Para conter os manifestantes, a repressão foi utilizada com força.
No Brasil, não é diferente. Acompanhada dessas políticas de retirada de direitos, o governo prepara o aumento da repressão. Por duas vezes em um único ano, o fantasma do AI-5 voltou a ser anunciado de maneira pública, primeiro por Carlos Bolsonaro, em entrevista para o canal no Youtube Leda Nagle, e depois pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, em Washington.
O aumento da repressão e o anúncio de períodos mais violentos no país tendem a reproduzir a violência sobre os grupos sociais mais marginalizados. No caso da comunidade negra, aquilo que estava mais focado na juventude tem se ampliado para todas as faixas etárias do povo negro.
Se antes as manchetes, quando abordavam o tema da violência urbana no Brasil, noticiavam casos de homicídio contra jovens negros, hoje o noticiário tem ampliado o olhar para crianças e idosos, também vítimas da violência racial.
Soma-se a Juarez e Seu Vermelho pessoas como Mestre Moa do Katendê, assassinado depois do segundo turno do período eleitoral, ao fim da disputa entre Bolsonaro e Haddad. Moa era uma das principais referências no país para a capoeira.
Crianças negras também tem enfileirado esses casos de violências. Ágatha Félix, 8 anos, Kauê dos Santos, 12 anos; Kauê Rozário, 11 anos, Kauan Pimenta, 12 anos; Jenifer Silene Gomes, 11 anos são alguns casos. O mais novo foi Ketellen Umbelino de Oliveira Gomes, 5 anos, baleada na perna quando estava a caminho da escola, ao lado de sua mãe, em Realengo, no Rio de Janeiro, no dia 12 de Novembro.
Outra mudança consistente é a alteração do discurso oficial. Governadores e o atual presidente legitimam essas ações truculentas e incentivam a morte constante de jovens negros, sobretudo por parte do Estado.
Diante desse cenário é preciso seguir denunciando em todas as esferas internacionais as violações de direitos cometidas no Brasil. Poucos movimentos sociais fizeram isso em 2019, como a luta antirracista fez.
Em Maio deste ano, o movimento negro foi à Jamaica para reunião da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciar o pacote de segurança pública de Sérgio Moro. Em Outubro, foi a vez de ir à Genebra, na ONU, para denunciar o projeto do ex-juiz e outras ações do governo federal, como o acordo entre o Brasil e o EUA para a base espacial de Alcântara, que resultará na retirada de 800 famílias quilombolas do espaço.
O movimento negro segue articulando trabalhos de formação de base, como o Seminário Internacional da Coalizão Negra por Direitos, que ocorre entre os dias 29 e 30 de Novembro, em São Paulo.
A luta antirracista, mais do que nunca, continua nas ruas, nas periferias das grandes cidades e nos territórios quilombolas denunciando a violência de Estado contra o povo negro. Seguiremos em defesa dos nossos jovens, bem como de crianças e idosos, vítimas da política genocida do Estado.
Continuaremos também no enfrentamento às políticas concentradoras de renda de Paulo Guedes e ao discurso bélico de Moro e Bolsonaro.