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Condenação dos assassinos de Marielle Franco: justiça ou retaliação tardia?

O colunista Felipe Ruffino comenta o legado de Marielle Franco e demora do sistema de Justiça brasileiro para condenar seus assassinos
Os familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes em coletiva de imprensa após a condenação dos assasinos Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2024

Foto: Solon Neto/Alma Preta

2 de novembro de 2024

Após seis anos de intensas investigações e mobilização nacional e internacional, foram finalmente julgados e condenados os envolvidos no assassinato de Marielle Franco, vereadora pelo PSOL-RJ. Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do crime, foi condenado a 78 anos e nove meses de prisão, enquanto Élcio de Queiroz, apontado como o motorista no dia do crime, recebeu uma pena de 59 anos e oito meses.

Desde a prisão dos suspeitos em 12 de março de 2019, o Brasil aguardava ansiosamente o desfecho de um dos crimes políticos mais emblemáticos de sua história recente. Marielle, mulher negra, lésbica e oriunda do complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, simbolizava a luta pelos direitos humanos, o combate à violência policial e a defesa das minorias. Sua atuação política estava intrinsecamente ligada às questões raciais e de gênero, e é impossível dissociar o crime brutal das forças que ela enfrentava.

Nascida e criada em um dos lugares mais desassistidos pelo poder público, Marielle dedicou sua vida à ampliação de direitos e à construção de políticas públicas que favorecessem a periferia. Graduada em ciências sociais e mestre em administração pública, ela era a voz de muitos que não encontravam representatividade no cenário político.

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Marielle não pode ser lembrada apenas pela brutalidade de sua morte, mas pela força de sua vida e pelo impacto de suas lutas, que permanece viva em cada movimento por igualdade e representatividade. Seu legado impulsionou novas gerações de jovens negros e periféricos a sonharem com um espaço mais inclusivo e justo, onde a política seja uma ferramenta de transformação social e representatividade.

A condenação dos assassinos traz um sentimento de ruptura, mas também um alerta: enquanto as estruturas que perpetuam o racismo e a violência do Estado permanecem inabaladas, a segurança dos líderes sociais e das minorias continua em risco. Marielle tornou-se um símbolo de resistência, e, a cada marcha e ato realizado em sua memória, fica claro que sua voz ecoa muito além do seu tempo. Que sua morte inspire mudanças reais, não apenas na legislação, mas nas consciências e práticas institucionais. A sociedade brasileira exige mais que um encerramento judicial; clama por uma ruptura com a impunidade e pela missão histórica que persiste quando vidas negras e periféricas são atacadas.

As penas impostas a Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz representam um marco no sistema de Justiça, mas só terão real efeito se acompanhadas por um compromisso coletivo de mudança. Que a luta de Marielle Franco siga viva, estimulando uma sociedade a revisar suas prioridades e a defender de forma ativa o direito à vida, ao respeito e à justiça para todos.

  • Felipe Ruffino

    Felipe Ruffino é jornalista, pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Gestão da Comunicação, possui a agência Ruffino Assessoria e ativista racial, onde aborda pautas relacionada à comunidade negra em suas redes sociais @ruffinoficial.

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