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Conheça Sidney Santiago, ator e ativista contra o genocídio negro

19 de novembro de 2018

Um dos mais promissores atores negros, Sidney Santiago transita entre novelas globais e apresentações que denunciem o genocídio negro

Texto / Pedro Borges
Imagem / Pero Jackson

Sidney Kuanza Santiago, formado em Arte Dramática pela USP, atua no teatro, cinema, na televisão, é um dos fundadores da Cia dos Crespos e idealizador da Revista Legítima Defesa, material que aborda a dramaturgia negra no Brasil.

O sobrenome Kuanza foi adotado em 2010, depois de atuar como arte-educador em Angola e despertar o desejo de resgatar as origens africanas. Sidney fez trabalhos em Luanda, capital de Angola, onde estudou o teatro africano para a disciplina de Sociologia e Política, que fez na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP).

Um dos atores a discutir o racismo no país com maior ênfase, Sidney exalta a formação política que teve no movimento negro durante a vida. No início dos anos 2000, aproximou-se do Quilombhoje, grupo responsável por organizar os Cadernos Negros, momento em que pôde entender melhor os desafios da população negra no país.

“Foi um marco civilizatório ter participado do Quilombhoje, dos Cadernos Negros, desse movimento de literatura”, afirma o ator em entrevista ao Alma Preta.

A vida e as referências

Sidney Santiago Kuanza nasceu em 1985, na cidade do Guarujá-SP, na Ilha de Santo Amaro. Apesar de ter sido criado no litoral paulista, o ator de 33 anos conta que teve uma infância interiorana, calma e tranquila.

“Eu cresci muito perto do verde e do mar. As lembranças são muito positivas. Cresci rodeado de livros numa escola pública que nos possibilitava muito acesso à arte e à cultura”.

Desde cedo, a criança se envolveu com a arte. Primeiro, por meio da dança, onde ficou por 9 anos, e depois na poesia e no teatro. Desde que iniciou a carreira como ator, nunca mais exerceu outra profissão.

“Eu comecei a me interessar por arte a partir do momento que eu vi os palhaços. Eu lembro dos números e dos engolidores de fogo. Foi a partir daí que eu comecei a me interessar”.

A paixão pela dramaturgia também foi inspirada por referências como Grande Otelo, Zózimo Bulbul e Léia Garcia.

Zózimo, por exemplo, se vangloriava de nunca ter interpretado um escravo, um dos poucos papéis que costumam ser designados para profissionais negros. Léia Garcia, para ele, com a sua “máscara trágica”, seria mais reconhecida do que é, se trabalhasse em qualquer outra parte do mundo.

Entre os mais novos, gosta de enaltecer Lázaro Ramos, pelo talento e a consciência política, e Babu Santana, um dos atores mais incríveis e premiados, segundo Sidney.

A carreira

Sidney Santiago estreou na televisão no seriado “Turma do Gueto”, em 2002, produto exibido pela TV Record, cujo objetivo era o de apresentar as dificuldades sentidas por jovens negros das periferias de São Paulo. A série foi escrita por Netinho e Laura Malin.

Três anos depois, em 2005, participou de outra série, “Carandiru – Outras Histórias”, veiculada pela TV Globo entre os dias 10 e 12 de Junho. Entre os 10 capítulos da série, Sidney interpretou um jovem, que rouba um carro, é preso, e encontra o pai no presídio.

A presença na televisão seguiu e na obra de Maria Adelaide Amaral, em 2008, “Queridos Amigos”, representou o jovem Jurandir. A última aparição do ator na televisão brasileira foi na novela de sucesso “Caminho das Índias”, quando interpretou um personagem com esquizofrenia, Ademir.

No cinema, Sidney começou em 2006, com “Herácles em Os 12 Trabalhos”. No Festival do Rio de Janeiro, depois da avaliação dos jurados, ficou com o prêmio de melhor ator, ao lado de Selton Mello.

Outra participação recordada por Sidney é a “Escrava Mãe”, que conta a história da mãe da escrava Isaura, filha de um relação entre um homem branco e uma mulher negra. Na novela, exibida pela Tv Record em 2016, ao invés de uma mulher branca, uma negra de pele clara assume o papel, o que torna a peça mais fidedigna, segundo Sidney.

Nas ruas Sidney Santiago une o ativismo político e o talento enquanto artista. No centro da cidade de São Paulo, ou em bairros periféricos como a Vila Nova Cachoeirinha, Taipas, Capão Redondo, Itaquera, ou municípios como Diadema, Santos e Guarujá, Sidney tem apresentado a peça “Negror”, espetáculo que denuncia ao genocídio negro.

Cia dos Crespos

A Cia dos Crespos surgiu em 2005, como uma forma de questionar a ausência de negros na dramaturgia brasileira. O grupo, destacado na dramaturgia negra nacional, reúne atores que desejam se debruçar sobre as desigualdades raciais no país. “Os Crespos”, como são chamados, colaboram para o desenvolvimento técnico dos artistas e para o entendimento da negritude como tema político.

“Os crespos tem essa importância de ali, no início da minha vida adulta, olhar e ‘eu posso fazer teatro numa perspectiva coletiva e eu posso fazer teatro não só para entreter, mas para informar’. Foi ai que surgiram os crespos com uma proposta bem inovadora que era a de fazer um teatro para nós, sobre nós, com nós”.

Entre as peças de destaque da Cia dos Crespos, vale sublinhar o projeto “Dos Desmanches aos Sonhos: Poéticas em Legítima Defesa”, que apresentou a trilogia das peças “Além do Ponto”, “Engravidei, Pari Cavalos e Aprendi a Voar sem Asas”, e “Cartas à Madame Satã ou me desespero sem notícias suas”.

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