Texto: Fabiana Pinto / Edição de Imagem: Vinicius Martins
A cor de nossa pele determina a forma como nos relacionamos em sociedade. Nossa cor determina se podemos entrar em uma loja de luxo e não sermos parados ou constrangidos, se seremos atendidos primeiro em um restaurante, ou ignorados. Nossa cor determina o tratamento que receberemos, seja em uma entrevista de emprego ou até mesmo, em uma unidade de saúde onde constitucionalmente é nosso direito sermos tratados de maneira igualitária.
Assim como nas demais esferas da vida em sociedade, quando pensamos na saúde, a população negra encontra-se em desvantagem no que diz respeito ao atendimento recebido. E nessa falta de cuidado e racismo enrustido, a mulher negra é quem mais sofre e quem mais morre pelo preconceito e falta de profissionalismo.
O racismo institucional é o racismo que ocorre dentro de alguma organização ou entidade, como por exemplo, um hospital. Ele se demonstra através da desigualdade no atendimento de pacientes, no insulto de cunho racial ou até mesmo na violência física. Em hospitais ou clínicas de atenção básica em saúde, é comum que o atendimento das populações mais pobres seja feito de forma negligenciada em termos gerais. Mas quando pensamos fatores como cor e gênero, a situação se mostra ainda mais grave e o perigo dessa negligência pode custar vidas.
É importante pensarmos o racismo em sua forma mais comum, na vida social como um todo, e percebermos a mulher negra como vítima social desse sistema já legitimado. Desde a atenção básica, mulheres negras possuem mais dificuldade de acesso a esses atendimentos ambulatoriais do que mulheres brancas. Isso é o que demonstra pesquisas recentes no que diz respeito à saúde da mulher negra e ao atendimento do sistema público de saúde. Os maus tratos por parte de equipes de saúde vão desde a falta de informação até a negligência no tratamento médico avançado.
O estereótipo de “mulher forte”, que a sociedade emprega às mulheres negras, pode custar caro. Pesquisas sobre taxas de mortalidade no país inteiro afirmam: mulheres negras morrem mais do que brancas. E, quando procuramos compreender o fator da causa da morte, percebemos quais os aspectos determinam a vida ou a morte de uma mulher negra.
Mulheres negras recebem menos anestesias durante procedimentos cirúrgicos de parto. Elas, quando estão nas mesmas situações socioeconômicas que brancas, recebem menos cuidados e informações relevantes à saúde durante o período de pré-natal e pós-parto. Vale ressaltar que, o tratamento diferenciado durante o período pré-natal, faz com que muitas vezes o óbito logo após o nascimento tenha uma incidência maior em bebês de mulheres negras. O número de exames e consultas realizadas por mulheres brancas em clínicas de atendimento público de saúde, muitas vezes, chega a ser o dobro dos que são realizados por mulheres negras.
A coordenadora-geral da Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde (SMP) de 2015, Maria Esther de Albuquerque Vilela, ressaltou que além dos fatores clínicos e socioeconômicos, o racismo institucional é um dos principais determinantes de um atendimento precário à população negra brasileira. “Elas são menos tocadas do que uma mulher branca. Elas são negligenciadas. Temos aí toda uma questão de racismo institucional”, alertou a então coordenadora-geral em entrevista.
Desde a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), na constituição brasileira de 1988, o debate da desigualdade racial no atendimento do sistema de saúde é feito de forma lenta. Sabemos que, a população negra possui uma predisposição a uma série de doenças como diabetes e hipertensão, e que segundo dados da SPM, há 62 mortes maternas por 100 mil partos no Brasil, sendo a maior causa da morte dessas mulheres a hipertensão, que atinge cerca de 20% das mães que morrem.
Apesar dos avanços nos últimos anos com a criação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra que, no atual governo parece ter parado definitivamente com seus avanços, ainda há muito o que trabalhar no sentido de garantir à população negra brasileira um serviço digno, gratuito e livre de descriminação. Afinal, é incompreensível que, em um país onde mais da metade da população é negra, ainda exista negligência e irresponsabilidade no tratamento das especificidades dessa população.
Referências bibliográficas:
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GELEDÉS. Grávidas pardas e negras recebem menos anestesia no parto. GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra. São Paulo, 21 mar. 2014. Disponível em: <.”>http://www.unicef.org/brazil/pt/br_guiagestantebebe.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2016.
CANUTO, Luiz Claudio. Especialista reclama de racismo institucional no atendimento à saúde da mulher negra. Agência Câmara de Notícias, Brasília, 09 jun. 2015. Disponível em: <.“>http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/RADIOAGENCIA/489786-MORTALIDADE-MATERNA-ENTRE-NEGRAS-AUMENTOU-NO-BRASIL.html> Acesso em: 22 nov. 2016.”