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Dia da Mulher Negra: “Somos a força que, quando se movimenta, move o mundo todo”

Parafraseando Ângela Davis, Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU, em São Paulo, fala sobre o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e a luta das mulheres negras no Brasil

Imagem mostra mulheres negras em marcha.

Foto: Imagem: Janine Moraes

25 de julho de 2022

Dia 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, e quando a gente vai falar de mulheres negras só vêm a minha cabeça as dores e a força dessas mulheres. São tantos e múltiplos os olhares que temos que ter, porque é impossível tocar neste assunto sem lembrar que mulheres negras ganham quase 60% menos que homens brancos e ainda assim a maioria de nós é chefe de família.

Não é possivel esquecer que, enquanto o encarceramento entre homens cresceu cerca de 220% nos últimos anos, entre as mulheres este crescimento, no mesmo período, foi de mais de 550%, sendo 2/3 mulheres negras. Temos sempre que não esquecer que somos a maioria das vítimas dos feminicídios, dos estupros, das mulheres trans mortas, das mães que choram seus filhos perdidos pra violência do Estado, das que estão nas filas de visita dos presídios para visitar seus entes queridos, das mulheres que sofrem violência obstétrica, das mulheres que estão em situação de rua e de insegurança alimentar.

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Mas temos também que lembrar que somos a maioria das que estão nas campanhas de arrecadação de alimentos para o nosso povo, na periferia, somos a maioria das que criam e lutam nos movimentos de mães que denunciam e resistem às violências do Estado, somos a maioria das mulheres que lutam por direito à terra e à moradia digna, somos também a maioria entre os negros que estão acessando a a graduação na universidade, ao mestrado e ao doutorado, já somos a maioria entre os advogados negros, entre os professores negro. Nós somos a força que, quando se movimenta, move o mundo todo, mal parafraseando a grande Angela Davis.

Ainda precisamos caminhar muito para que a mulher negra seja a primeira opção de amor e afeto entre todos os homens negros, para que nossos filhos não sejam abortados pelos pais depois de nascidos, para que tenhamos direito aos mesmos salários que os homens brancos com o mesmo nível de formação, para que sejamos olhadas e tratadas com dignidade nos ambientes de trabalho, escolar, nos serviços de saúde, no período do envelhecimento, perante a justiça. Mas a força das mulheres negras que tem feito, sempre, da sua vida, luta tem escancarado as mazelas pelas quais passamos e avançado nas formas de resistência e nas possibilidades de melhoria para a vida do nosso povo e de todo o Brasil. Com certeza é a dororidade, o encontro e a identificação nas dores, que faz com que mulheres negras juntem forças para as lutas necessárias a nossa sobrevivência e a de nosso povo

Por isso, bora comemorar o 25 de Julho. Salve às Mulheres Negras, Salve o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e o Dia Internacional da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha.

Você conhece Tereza de Benguela?

Tereza de Benguela, ou de Quariterê, foi uma mulher escravizada, que viveu no século XVIII em Vila Bela da Santíssima Trindade, atual estado do Mato Grosso. Depois da morte de seu marido, José Piolho, ela comandou o Quilombo de Quariterê, ou do Piolho, por mais de 20 anos. Este quilombo abrigava negros e indígenas, além de produzir alimentos e explorar minérios na região. Tereza de Benguela resistiu a diversas expedições de ataques do Estado até ser capturada. O quilombo foi destruído após a sua morte.

Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU), em São Paulo

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