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Instalada a barbárie, não há saída que não parta dos silenciados

20 de setembro de 2019

Mulheres ativistas antirracista escreveram sobre a importância do protagonismo negro nos espaços de decisão para a construção de uma sociedade mais justa

Texto / Julian Souza, Danielle Godoi e Ester Rufino | Imagem / Elza Fiuza/Agência Brasil

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Estamos chegando! O que há tempos dizemos… mas sempre estivemos? De que tempos falamos? Irreversível, irrefreável e inegociável. Corpos ditos pretos, periféricos, marginais e abjetos reivindicam seu lugar na retomada de todos os bens por si construídos sob sangue e suor em terras brasílicas.

Nos convidam a sentar à mesa da casa grande, nós os povos das senzalas, vítimas do tráfico transatlântico, quiçá a maior tragédia da humanidade, vez que seus reflexos se perpetuam no tempo! 

Convite esse que denuncia a negociação do nosso pertencimento num país que crê no mito da democracia racial, na igualdade de gênero e na meritocracia. 

Chegamos, mas não nos reconhecemos em rostos brancos, velhos, cisnormativos e heterossexuais. Trejeitos e costumes que desqualificam e deslegitimam nossa forma de ser e existir no mundo. Saberes cooptados e ressignificados que não consideram nossos acúmulos ancestrais como ciência.

A nós nos cabe nos utilizarmos de instrumentos capazes de dar conta da construção de um novo marco civilizatório. Isso significa dizer que grupos privilegiados deverão desocupar as cadeiras dos espaços de tomadas de decisão para que os mal-ditos assumam o protagonismo das narrativas sobre si, como já bradava uma certa malunga.

Estado, Direito, Política e Justiça são termos que carecem de efetividade e materialidade na vida de alguns sujeitos. Não por acaso, o Judiciário, o Executivo e o Legislativo, espaços de formulação de regras e mandamentos comportamentais e éticos são majoritariamente ocupados por corpos não negros, ao passo que o Brasil, vergonhosamente, é o país que ocupa o terceiro lugar no aprisionamento de pessoas. Realidade naturalizada pela maioria da população que entende que mais pena é igual a menos crime.

A Carta Maior de 1988 conferiu o gozo e fruição de Direitos Fundamentais. No entanto, o que se observa na prática é que, passados mais de 30 anos de sua existência, tais direitos não se efetivaram homogeneamente e não se construíram políticas públicas que alcancem a todas as pessoas conforme suas especificidades.

Propriedade e Moradia, Meio Ambiente e Povos Tradicionais, Especulação Imobiliária e Gentrificação, Agronegócio e Agricultura Familiar, Agrotóxico e Segurança Alimentar: dicotomias de um povo que performa compartilhar dos mesmos ideais de vida e sociedade.

Retrocesso, recrudescimento, censura, tortura: realidades presentes e (in)visíveis, frutos de um simulacro de democracia que não alçou voos maiores que não promover a manutenção do alijamento coletivo e seletivo da dignidade humana.

Juliana Souza é advogada pela PUC/SP, mestranda em Humanidades Direitos e Outras Legitimidades pela USP, coordenadora chefe do Departamento de Concessão de Bolsas e Desenvolvimento Acadêmico do IBCCRIM, Vice-Presidente da Comissão Estadual da Jovem Advocacia da OAB/SP, militante antirracista e Coordenadora de Diversidade e Ações Antidiscriminatórias do Grupo Prerrogativas.

Danielle Godoi é advogada, feminista-antirracista, promotora legal popular e coordenadora adjunta do Departamento de Concessão de Bolsas e Desenvolvimento Acadêmico do IBCCRIM.

Ester Rufino é militante antirracista, mobilizadora social, articuladora política e coordenadora adjunta do Departamento de Concessão de Bolsas e Desenvolvimento Acadêmico do IBCCRIM.

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