Texto: Karine Lima / Edição de Imagem: Pedro Borges
Tenho vários motivos para escrever sobre isso e tenho também vários modos de começar. Mas resolvi fazer uma trajetória histórica da minha vida e voltar a minha infância. Como criança negra, sempre sofri muito preconceito em relação ao meu cabelo. Chorei por diversas vezes na tentativa de talvez expelir essa dor, mas com o tempo percebi que não havia choro que pudesse externar a dor de não ser aceita pelo simples fato de ser diferente.
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Quando criança, acreditava que eu era a única que passava por isto. Nós não temos muita noção do que vivemos, tampouco conhecimento sobre o racismo. Nossos pais normalmente dizem que são pessoas más e assim ficam categorizadas, mas nunca consegui entender o porquê a minha existência enquanto ser incomodava tanto. Nos enganamos em pensar que o preconceito acabou, ou que pelo menos as crianças são poupadas. Na realidade, as coisas continuam exatamente iguais. Os gêmeos dessa semana foram a prova viva disso. O preconceito, neste caso, veio mascarado com a desculpa da prevenção do piolho. O engraçado, porém, é que só eles estavam sujeito ao ataque dos tais parasitas.
Os pais para proteger seus filhos acabam se submetendo às imposições e aos padrões de beleza, deixando as suas características e suas origens de lado. E as crianças crescem sem saber realmente quem são e como realmente são. Isso aconteceu comigo e sei que não estou sozinha nessa história. Quando resolvemos de uma vez por todas nos assumir conforme somos, parece que estamos cometendo um crime. Todos se acham aptos a opinarem sobre a sua escolha e eu não digo pessoas aleatórias, pelo contrário, são as pessoas nas quais achávamos que poderíamos contar nesse momento de aceitação pessoal.