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Mortes em operações: capacitação antirracista para policiais não é a solução

A escritora e pesquisadora Carla Akotirene reflete sobre as práticas racistas das polícias militares como produto de uma estrutura maior da qual "o fardado não representa a si próprio, mas representa aquela instituição racista"

Texto: Carla Akotirene | Foto: Agência Brasil

Atuação violenta das polícias não será superada apenas com capacitações antirracistas

10 de junho de 2021

As mortes de Viviane Soares, 40 anos, Maria Célia Santana, 73, na Bahia, bem como da jovem Kathlen de Oliveira, 24 anos, grávida, que morreu após a bala perdida encontrá-la num suposto confronto do tráfico e policiais, no Rio de Janeiro, atestam que há, independentemente das governanças de esquerda ou conservadoras, afinidades genocidas estruturais empregadas pela Polícia Militar, como expediente duma política dos Estados Nações e do discurso de Guerra às Drogas.

Qual a solução? Dar capacitação antirracista pra os policiais com certeza que não é.

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Na moral, resgatem as contribuições da obra Black Power, mais a conceituação de racismo institucional descrita por Carmichael e Hamilton, porque a finalidade neocolonial da instituição polícia valida a violência aberta, sistêmica e antinegros, visando o controle populacional, regulação da mão de obra inapta ao trabalho e uma necropolítica, em atenção aos que vão morrer e aos que serão encarcerados, conforme descreve Ângela Davis e Achille Mbembe.

Tomar a polícia como boa praça, dando aos servidores a responsabilidade do racismo individual, não passa de desculpa para transferência de recurso público ao Terceiro Setor engajado. Ademais, os preconceitos de fora têm tecnologias menos efetivas que o racismo e a discriminação correlata das instituições.

Os comandantes recebem capacitação antirracista?

A segurança pública não muda a lógica desumanizante pra realizar o Estado Democrático de Direito. Então, o conceito britânico de racismo institucional é puro engodo. Neste caso, é improvável dizermos do fracasso coletivo duma instituição em prover o atendimento adequado para determinados grupos por causa da cor, raça, origem, quando a matança, tortura e prisão, são expedientes exitosos. Aliado a isso, os policiais ganham por produtividade e, assim, geram flagrantes forjados.

A oralidade da favela não tem valor diante da escrita dos autos e notícias veiculadas, a não ser quando a ação é filmada. 

Não esperemos pedagogia de empoderamento negro para policiais, pois o fardado não representa a si próprio mas representa aquela instituição racista. À ele não cabe o argumento de que os próprios policiais negros violentam e discriminam. Quem dirige o Estado brasileiro é a alta patente branca.  Que façam seus cursos de antibranquitude e anticolonialismo.

Direito e Medicina são conhecimentos hegemônicos. São poderes instituídos em Saúde Pública e Segurança Pública, até já expliquei no meu livro Ó paí Prezada, fruto da dissertação de mestrado defendida em 2010.

O usuário de crack comete crime sem receber atenção em saúde. Já o racista não demora muito a conseguir laudo médico pra encobrir seus crimes, sejam racistas pobres ou policiais negros.

*Carla Akotirene é escritora e pesquisadora, mestre e doutoranda em Estudos de Gênero e Feminismos na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Concentra estudos sobre encarceramento, sistemas filosóficos africanos e violência letal.

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