Por: Simone Nascimento
Eleger mulheres negras comprometidas com o nosso povo neste domingo (6) é uma dívida do Brasil com a maioria da população que ainda tem somente 6,16% dos 55,5% de brasileiros autodeclarados negros, segundo o Censo 2022, em cargos de vereança pelo país.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Em São Paulo, o número de negros eleitos passou de dez em 2016 para 12 em 2020, apenas 21% numa metrópole onde 43,5% da população se declara preta ou parda.
Levando-se em conta que dos 12, foram eleitos quatro estreantes pelo PSOL, é importante ressaltar que outros quatro perderam a cadeira para não negros.
Na história da Câmara Municipal de São Paulo, desde 1560 só seis mulheres negras conseguiram ser eleitas. E essa conversa não é nem de longe somente sobre cargos. Para uma mulher negra se sentar, velhos políticos brancos e de famílias ricas terão que se levantar.
A ausência de pessoas negras nos espaços de poder retroalimenta o projeto genocida do país. Portanto, quando uma mulher negra progressista se candidata, ela desafia o sistema. Ela move sua comunidade inteira a ter vez e voz.
Vivência importa. É pela composição racial dos parlamentos brasileiros que a fome só importa na propaganda, a educação e a saúde são dia após dia sucateadas e a política de segurança é a mesma desde a Guarda Imperial, que funciona nas periferias brasileiras como um projeto de extermínio.
Não somos apenas identidade, somos a possibilidade de vocalizar a maioria da população brasileira. E como esperar algo diferente de nós? Há pouco mais de um século conseguimos derrubar um sistema de desumanização no país, através da luta em quilombos e revoltas contra o colonialismo. Mas o Brasil ainda nos deve reparação.
Em 2024 seguimos encarando o extermínio, físico ou epistêmico, como as lutas pelo resgate da origem negra do centro da capital paulista – nas mobilizações pelo Memorial dos Aflitos, pela estação de metrô histórica Saracura Vai-Vai e em reverência à Madrinha Eunice – evidenciam.
É por isso que em São Paulo, pessoas negras morrem três vezes mais em decorrência de complicações do HIV-Aids que pessoas brancas. Por isso mais de 80 mil cidadãs e cidadãos vivem em situação de rua na capital mais rica da América Latina, com mais de 590 mil imóveis vazios.
É pelo projeto racista de extermínio que a violência contra mulheres cresce e a prefeitura fecha serviços de aborto legal numa cidade onde quatro em cada dez vítimas são meninas e adolescentes negras até 17 anos.
É urgente virar esse jogo. E para contribuir com essa virada é que aceitei o desafio de ser candidata a vereadora nessas eleições. Fortalecida pelo resultado de 2020, quando fiquei na suplência da nossa bancada, pelas lutas sociais do movimento negro que me forjaram, por ser a candidata do Movimento Negro Unificado (MNU) e pela experiência como codeputada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).
Projeto coletivo importa. A história do Movimento Negro Unificado se confunde com a história das políticas públicas de combate ao racismo, que, formuladas pelo movimento, avançaram ao irem de encontro com parlamentares e governos comprometidos a escutar e implantar nosso projeto de vida. Nossa presença no parlamento paulista ajudará na articulação de uma bancada negra e antirracista, com a força e articulação dos movimentos sociais.
Por isso, nessas eleições, o MNU levanta a campanha “Vote negra. Vote negro”. É hora da nossa geração nos levar além!
Simone Nascimento é candidata a vereadora pelo PSOL na cidade de São Paulo e coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado.