Texto escrito pela idealizadora do projeto “Elogie uma irmã negra”, Luana Protazio, rebate as colocações feitas pelas artistas Bárbara Sweet e Lívia Cruz, responsáveis por publicar um vídeo com colocações racistas direcionadas a homens negros. O material já foi retirado do ar.
Texto / Luana Protazio
Imagem / Reprodução
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Se tem uma coisa nada nova e nada revolucionária é a hipersexualização e objetificação de homens negros por mulheres brancas. Reduzir homens negros ao falo, este que as mesmas julgam os maiores do mundo pelo estereótipo popular histórico, tão histórico quanto o estereótipo do homem preto bandido.
”você vai encontrar ele saindo do camburão ai olha pra cara dele, não sabe se entrega o telefone ou tira a calcinha. ele vai me roubar, ele vai me comer? a gente não sabe. essa dúvida faz parte da atração. […] você olha pra ele parece aqueles caras que tá na biqueira com um fuzil na mão. e isso é sexy cara. […] eu olho pra cara dele e penso em sexo selvagem”
o ano é dois mil e dezoito e elas juram que isso é subversão.
Crescendo na cultura Hip Hop, posso afirmar que não tem um amigo preto meu do rap que não tenha passado pela humilhação de ser enquadrado pela polícia, muitas vezes de dia em praça pública ou enquanto trampavam vendendo cd no centro da cidade, outras vezes de noite onde ‘ninguém viu, ninguém vê…’ e tudo pode acontecer. Também posso afirmar que, embora não verbalizado, a maioria desses amigos tiveram/tem em muitos momentos seus corpos objetificados, reduzidos ao pênis, animalizados.
máquina de prazer e violência num só corpo. nunca homens, meninos, humanos… sempre estigmas.
Sabe o que contribui para a perpetuação dessa realidade? Em pleno 2018 ter que apontar o racismo explicito na fala de feminista branca no rap. Rap, sabe, aquele gênero musical da cultura hip hop, uma cultura negra e tal… no minimo irônico.
Não é de hoje e o vídeo citado é só um exemplo que reflete o todo das relações raciais e a importância de não secundarizar raça a partir de gênero. Eu não vou colar com esse tal empoderamento feminino que passa pela manutenção de uma estrutura genocida da qual os meus são alvos. é simples assim. Já passou da hora de racializar profundamente o discurso e principalmente a prática. Eu estou cansada.
Resposta de Bárbara Sweet
Em sua página no Facebook, Bárbara Sweet publicou um pedido de desculpas. A nota foi uma resposta ao vídeo e às inúmeras que a artista recebeu. Leia a mensagem na íntegra
Não existe outra maneira de começar esse texto sem ser pedindo desculpas a todos os negros e negras que se sentiram ofendidos pelo video “objetificando” feito por mim e pela Lívia Cruz. Ja adianto que o video foi deletado e não figura mais no canal da Lívia.
Tambem quero agradecer a todos os apontamentos feitos por mulheres e homens negros em relação as minhas palavras, que mesmo que mesmo em tom de piada, não anulam o poder predatorio de perpetuar opressões a uma minoria marginalizada.
Nossa intenção era inverter os papéis de gênero na objetificação que acontece nos clipes de rap feitos por mulheres de forma humorada, foi dito isso no inicio do vídeo, e levar aos mcs homens essa perspectiva que nós como mulheres vivenciamos.
Como ja diria minha vó, de boa intenção o inferno ta cheio. E não há nada que eu possa escrever ou falar que va amenizar a dor de quem se sentiu agredido pelo conteúdo, por isso só reforço que errei, me arrependo e estou buscando mais conhecimento e sabedoria nos recortes raciais e de classe.
A todas as pessoas que me marcaram, enviaram mensagens e se decepcionaram com minhas palavras, eu quero dizer apenas que estou envergonhada de não ter tido presença e conhecimento suficiente para evitar esse desconforto a vcs.
Me sinto muito triste que esse conhecimento que agora possuo tenha vindo as custas do desconforto alheio e não pretendo justificar ou tirar o cu da reta argumentando ao meu favor.
Obrigada pela oportunidade de evolução e meus mais sinceros e envergonhados pedidos de desculpa.