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O compromisso com a decolonialidade: um caminho para a reparação histórica

Desafiar a narrativa dominante e abraçar o antirracismo é essencial para reverter as desigualdades históricas e garantir justiça social
Bárbara Barbosa, coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil.

Foto: Divulgação

13 de outubro de 2024

Por: Bárbara Barbosa

Decolonialidade é um projeto político que já está em voga, que oportuniza que toda a sociedade reveja, compreenda, assuma e repare as desigualdades geradas pela herança colonial, que está em toda parte. E dessa forma, todos ajam em prol da transformação desta realidade vivida.

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Se faz necessário vencer a narrativa hegemônica que procura alastrar o esquecimento obstinado da escravidão e do colonialismo nas análises sobre as desigualdades globais. Parece haver algo intencional na vontade de apagar personagens, povos e países da análise dos conflitos, das contradições e das resistências, como se minimizando-se os laços entre capitalismo e racismo, entre sexismo e racismo, preservasse-se uma assepsia no debate.

A decolonialidade é uma realidade

Não há colonialidade sem racismo, logo, também não há decolonialidade sem antirracismo. O racismo está no cerne da colonialidade e estabelece todas as relações de dominação da modernidade. Tais relações de dominação se agudizam ao incorporar também opressões de gênero, sexual, de classe, território, etária, religiosa e etc. 

A decolonialidade obriga a reativar a memória. Por isso, se faz necessário olhar para as origens das desigualdades, assumir o peso histórico e social da expropriação de terras, do sequestro e escravização de pessoas, o roubo de bens de populações inteiras, a exploração do trabalho doméstico das mulheres, sobretudo das mulheres negras. A reparação histórica se torna emergente a partir dessa compreensão.

Uma das preocupações centrais da decolonialidade é a questão do conhecimento. Se saber é poder, isso quer dizer que a colonialidade estabelece uma linha divisória que hierarquiza quem sabe e quem não sabe, e consequentemente, sobre quem tem poder e quem não tem. Sendo assim, pessoas negras e indígenas, mulheres trans e cis, travestis, pessoas com deficiência sofrem repetidas vezes uma desqualificação das suas existências, e por isso, tem o seu poder de emancipação subalternizado.

É essencial fazer ressoar o sentido da decolonialidade, alinhando-se às lutas que emergem do Sul Global e reconhecendo ativistas cujas trajetórias transcendem a institucionalidade. É necessário evocar a memória de figuras como Xica Manicongo, Maria Firmina dos Reis, Luís Gama, Carolina Maria de Jesus, Chico Mendes, Margarida Alves, Marielle Franco e Tuíre Kayapó. Essas e tantas outras lideranças merecem reconhecimento pelos riscos que enfrentaram, pelas desmotivações que superaram e pela vida dedicada ao combate às desigualdades.

Para não esquecer, é dever de todas as pessoas se aliarem à decolonialidade. No entanto, para tal, é preciso manter o compromisso de passar adiante a experiência vivida por aqueles e aquelas que fundamentam a decolonialidade: a população indígena, a população negra, e toda a gama de intelectuais do Sul Global.

Bárbara Barbosa, educadora popular, cientista política pela PUC-SP, mestra em Ciência Política pela USP e coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil.

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