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O país onde a cerveja é paixão nacional e o racismo também

31 de agosto de 2020

Grupo no WhatsApp com mais de 200 pessoas reproduz conteúdo racista contra sommelier negra e cervejaria criada por empreendedores negros

Texto: Juca Guimarães | Edição: Nataly Simões | Imagem: Leo Laps Fotografia

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A cena cervejeira no Brasil revelou como a mentalidade racista e a intolerância estão enraizadas em parte do perfil de admiradores de cervejas. Em um grupo com cerca de 200 participantes no WhatsApp, houve a circulação de mensagens racistas e ataques a uma sommelier negra e contra uma cervejaria chamada “Implicantes”, de proprietários negros.

As mensagens racistas começaram por conta do desconforto causado pelas indagações de uma sommelier negra sobre a falta de diversidade racial e de gênero na cena. Recentemente, a mulher deu uma aula na Escola Sciense Of Beer sobre “Racismo no mercado cervejeiro”, cujo tema central foi justamente a falta de diversidade no mercado em um país onde mais de 50% da população é negra e a cerveja é a bebida preferida nacionalmente.

“Quando me formei em sommelière, em 2018, foi em razão de não ver corpo como o meu no espaço da cerveja, aliás, via, mas em posição de subalternidade, na limpeza, limpando as mesas, ou fazendo segurança do espaço. Nada contra essas profissões, mas, o incômodo era, porque somente nesses lugares?”, questionou a especialista, em uma publicação em rede social.

A formação e a qualificação da mulher foram colocados em dúvida. Ela foi xingada e as mensagens também fizeram referência ao surgimento de uma marca de cerveja criada por empreendedores negros. “O Racismo, a Misoginia, a lgbtfobia, não dão um dia de trégua sequer. Hoje, um bando de homens brancos do mundo da cerveja, achou que seria legal levar minha imagem e da cervejaria Implicantes num grupo para vomitar os seus racismos. O ataque, não foi só a mim e a cervejaria. É a todo povo preto”, escreveu.

O caso foi denunciado à polícia e um do administradores do grupo tentou minimizar o ataque racista dizendo que o grupo era de “zoação” e que as mensagens “não têm cunho racista”. Uma das mensagens dizia: “O Mapa autoriza uma cervejaria negra? Não tinha que ser branca, inox, lavável???”. Mapa é a sigla para Ministério da Agricultura, órgão responsável pela autorização de funcionamento das cervejarias.

“Em 2018, comecei a frequentar mais de perto a cena cervejeira, um dos objetivos era entrevistar pessoas, sobretudo negras, para saber se elas se sentiam confortáveis em um espaço tão brancocêntrico, estava coletando material para um artigo científico que pretendo escrever”, escreveu a sommelier vítima de racismo.

O post dela, escrito na metade de agosto, denunciando o caso de racismo e reproduzindo as mensagens compartilhadas no grupo, recebeu mais de 500 comentários e teve uma repercussão maior ao ser abordado em uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, no domingo (30).

Para não expor ainda mais a vítima, o Alma Preta optou por não identificá-la neste artigo.

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