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O que é ser negra no Brasil?

6 de maio de 2016

Texto: Karine Lima / Edição de Imagem: Pedro Borges

Ser negra no Brasil é renascer há cada segundo, pois a única coisa que temos certeza no nosso dia é que um olhar retorcido com certeza vai te penetrar, se caso tiver “sorte”. E eu digo ter sorte, pois os maus tratos são tão grandes que nos faz pensar que o olhar, se comparado com as outras formas de racismo, passa pela gente com menos dor. Não nos demos conta, no entanto, que o nosso inconsciente está ali e essas marcas estão sendo bem registradas por ele.

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Por mais forte que sejamos não é fácil engolir um olhar ou uma fala sem que isso te atinja. Os traumas vão ficando “armazenados” e o que faremos com ele futuramente não sabemos. Talvez tenhamos a capacidade de ressignificar, mas não sou tão otimista assim. Não que eu não acredite que esse “milagre” aconteça, mas se ele realmente acontece, com toda certeza é com uma porcentagem muito baixa.

Ser mulher negra no Brasil é estar preso ao período escravocrata em que a mulher negra era destinada e associada apenas aos cuidados da casa grande e ao sexo. Após a abolição sem outras opções de trabalho a mulher foi obrigada a voltar para as casas de família, com a única diferença é que não eram mais escravas, no entanto os maus tratos acompanhados de humilhações e indignidade permaneciam e permanecem até hoje. Além disso, o estereótipo associado ao sexo e a sensualização da imagem se perdura, basta ligar a televisão em épocas de carnavais para ver que a bunda vale muito mais que a mente.

A própria existência já é um desafio, pois cada lugar novo e cada pessoa nova exigem novas estratégias de aceitação. Sim, é muito triste dizer isso, mas realmente é isso o que acontece. Em um ambiente de trabalho, os olhares e as cobranças estarão sempre voltadas para você, prontos para gargalharem do primeiro deslize, prontos para falar a famosa frase: “tinha que ser preta”, mal sabendo eles que tinha que ser mesmo, e somos felizes por ser.

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Por fim, ser negra é transgredir padrões, é ser original, é resistir para existir, é ter força, e acima de tudo é lutar contra o sistema.

“(…) O sistema pode até me transformar em empregada, mas não pode me fazer raciocinar como criada; Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo, as negras duelam pra vencer o machismo, o preconceito, o racismo; Lutam pra reverter o processo de aniquilação que encarcera afros descendentes em cubículos na prisão; Não existe Lei Maria da penha que nos proteja, da violência de nos submeter aos cargos de limpeza; De ler nos banheiros das faculdades hitleristas, Fora macacos cotistas;(…)” Yzalú – Mulheres Negras.

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