Texto: Danilo Lima / Edição de Imagem: Vinicius Martins
Mesmo com a expansão da internet, os grandes jornais impressos continuam publicando grandes tiragens, se mantendo como veículos importantes na formação da opinião pública, sobretudo, a de uma parcela especifica da sociedade, a parcela dominante.
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De acordo com pesquisa publicada em 2014 pelo Governo Federal, por meio da Secretaria de Comunicação Social — Secom, sobre o nível de confiança dos brasileiros nas mídias, 53% dos entrevistados diziam confiar mais nos jornais impressos do que nas noticias da TV, do radio e da internet.
A mesma pesquisa aponta ainda que pouquíssimos brasileiros leem regularmente esse tipo de publicação, cerca de 7%. Uma boa forma de se aproximar do perfil desses leitores é conhecer o perfil dos assinantes da Folha de São Paulo, o jornal brasileiro de maior tiragem e circulação entre os diários nacionais. Os dados de 2015 da Folha de São Paulo mostram que a maioria de seus consumidores, 60%, eram da classe A e B.
Uma questão importante de reflexão aqui é: Você seria assinante de um jornal de opiniões frontalmente opostas aos valores que você acredita ? Certamente não.
Os dados consultados da Folha não demostram o perfil racial dos leitores, o que não nos impede de deduzir que eles, os 60%, sejam majoritariamente de homens brancos, uma vez que o Brasil ao longo de sua história construiu profundos abismos entre as classes sociais, os gêneros e as raças.
Os grandes jornais, além das posições próprias apresentadas nos Editorias de cada edição, costumam destacar algumas pessoas do tecido social para vincular sua opinião sobre os fatos do cotidiano em suas páginas. Essas pessoas são consideradas especialistas em determinado assunto, classificadas como colunistas de opinião.
O Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa — GEMAA da Universidade Estado do Rio de Janeiro — UERJ, apresentou recentemente um importante material sobre o jornalismo brasileiro, no qual são analisados os gêneros e cor/raça dos colunistas dos principais jornais do país:
Ocupar o espaço de colunista em um veículo de comunicação de massa é ocupar um espaço de poder na sociedade, uma vez que existe a possibilidade concreta de influenciar centenas de milhares de pessoas. Portanto, em um país que 53% da população se auto-declara negra, o tratamento das questões raciais em nossa imprensa deveria ser mais sério.
Dos jornais analisados pelo GEMAAA — UERJ todos eles já publicaram editoriais contra as cotas raciais.
No caso da Folha de São Paulo foram vários editoriais nesse sentido. Disso podemos entender um pouco melhor duas coisas: a primeira é como a elite do país influencia a opinião pública para manutenção dos seus privilégios, e a segunda é que (pela distribuição dos dados), percebemos o quanto essa estrutura de dominação é rígida, pois no caso de mulheres negras, elas praticamente não têm voz.
Assim, quando se trata da questão racial, as páginas cotidianas de opinião do Estadão, do Globo e da Folha de São Paulo “se apequenam”, não passam de bloquinhos de notas que reforçam as visões de mundo de uma elite branca, e que muitas vezes também é preconceituosa.
Porém, historicamente nós negros usamos e abusamos da tinta preta, primeiro com a chamada Imprensa Negra e nos dias atuais por uma serie de portais de mídia (tanto digitais como impresso), construindo opiniões de libertação dos “grilhões das mãos e das mentes” por meio da informação crítica e representativa do povo negro.
lançado no ano de 1999 no cinema norte americano o filme The Matrix entrou para a lista dos mais vistos da história, com enredo carregado de doses generosas de ação, filosofia e ficção cientifica. O longa conta a história do protagonista Neo, personagem angustiado pela busca de conhecer a si e a realidade do mundo que o cerca.
Umas das grandes sacadas/críticas sociais do filme está na figura do Oráculo. Eles são seres mitológicos com capacidades místicas de profecias e dons especiais. Em The Matrix, o oraculo é interpretado por uma mulher, moradora do subúrbio e negra. Ou seja, os seres mais capacitados para ler o mundo e produzir as melhores interpretações sobre ele, seriam justamente aquelas pessoas mais subjugadas pela ordem social estabelecida.
E se, em vez dos discursos de autoridade das colunas jornalísticas, passássemos a ouvir e refletir mais sobre as vivencias das pessoas que experimentam cotidianamente sobre si os dilemas deste país?
Para que a opinião deixe de ter cor definida pelo racismo, que sejamos então capazes de identificar os oráculos anônimos do nosso tempo.