Texto: Lucas de Deus / Edição de Imagem: Vinicius Martins
Cuidar em organizar a nossa luta por nós mesmos é um imperativo da nossa sobrevivência como um povo. Devemos por isso ter muito cuidado ao fazer alianças com outras forças políticas, sejam as ditas revolucionárias, reformistas, radicais, progressistas ou liberais (Abdias Nascimento)
Desde o golpe dado por Michel Temer e parlamentares, a população brasileira vem sendo bombardeada com as notícias publicadas pelos jornais sobre os inúmeros absurdos e retrocessos na fragilíssima democracia brasileira. No entanto, meu objetivo aqui não é falar necessariamente a respeito do governo ilegítimo, mas sim, compartilhar uma inquietação específica acerca do alarde em torno da composição ministerial do Temer, ser apenas de homens brancos e heterossexuais.
Depois da divulgação oficial dos ministérios e respectivos ministros que comporiam o governo golpista, foram amplamente questionados e pontuados sobre o absurdo de não haver nenhum/a ministro/a negro/a e nenhuma mulher. De fato este quadro é profundamente dramático, uma vez que simboliza um governo completamente alheio, displicente, que ignora, anula e nega a diversidade étnico-racial, de gênero e etc. Entretanto, não poderia esperar algo diferente de um governo que assumiu o poder por meio de homens brancos que são latifundiários, ruralistas, fundamentalistas religiosos, fascistas. Governo que se valeu de um “golpe parlamentarista” para chegar ao poder. Um homem que chega a presidência de mãos dadas com esses políticos, só o pior pode se esperar.
Apesar disso, não acredito que este seja o melhor caminho para deslegitimar e refutar o governo Temer. Sabem por quê? O governo da presidenta Dilma Rousseff também deixou muito a desejar (entre tantas outras coisas) no quesito representatividade negra. A presidenta Dilma, ao longo do seu governo, teve apenas duas mulheres negras compondo o extinto Ministério: Luiza Helena de Bairros, Ministra da Igualdade Racial de 2011 a 2014 (no primeiro mandato da presidenta Dilma) e Nilma Lino Gomes, ocupando também o cargo de Ministra da Igualdade Racial de 2015 a 2016, a partir do segundo mandado da presidenta até o golpe. Acredito que ter negras/os ocupando a Secretaria da Igualdade Racial é não só óbvio, como estratégico, pois assim alguns setores dos movimentos sociais tendem a se acalmam.