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Se descobrir negro

23 de março de 2016

Texto: Gabriel Carneiro / Edição de Imagem: Pedro Borges

Nós, jovens negros da periferia, sabemos o quão o capitalismo e o racismo afetam as nossas vidas diariamente. Os passos mais lentos quando passa um carro de polícia, o constrangimento com os olhares das pessoas, o nojo do nosso cabelo, a “exotificação” da nossa cor.

Mas em algum momento, principalmente quando entramos na faculdade, nós seremos bem tratados. A diferença entre os tons de pele será irrelevante, seu cabelo vai ser até legal, descolado. E quando esse momento chega, nos tornamos o amigo negro. Sim, o amigo negro. O amigo que será a muleta para o discurso desconstruído da roda. Mas também, por mais que estejamos ambientados com nossos colegas, majoritariamente brancos, ficaremos para trás em todas as questões sociais. Questões essas que nossos amigos brancos tentam entender “ao máximo”, mas que enquanto puderem desfrutar de seus privilégios, o farão.

Muitos comentários racistas serão ditos, e o complexo de inferioridade que nos é imposto desde nossa infância volta como um soco no estômago. E a realidade da forma mais agressiva nos é exposta, e então, descobrimos que somos negros. E quando digo que “descobrimos”, não é porque já não sejamos negros e que não tenhamos noção do quão inferiorizados a sociedade nos torna. Mas sim, porque naquele momento, onde a convivência com a branquitude nos faz querer esquecer as dificuldades que nós negros enfrentamos, somos jogados ladeira abaixo de novo. E esse é o momento da descoberta da nossa identidade. Esse também é o momento onde nos buscaremos em nossos semelhantes, os negros.

Steve Biko - Consciência Negra

É claro que, quando falamos de ensino superior, sabemos que a presença de jovens negros é mínima. Mas eles estão lá, para nos acolher e ajudar a levantar.

E por mais difícil que isso seja, é libertador. Se descobrir negro, se aceitar negro e se amar negro. Amar a nossa fisionomia, nossa cultura, compartilhar os problemas com aqueles que os sofrem.

Isso não quer dizer que nos devemos nos afastar de nossos amigos brancos e amá-los menos. A não ser que eles insistam em serem racistas idiotas. Mas temos em nossa mente a verdadeira história, e compartilha-la, seja com branco ou com nossos irmãos, é importante.

É uma escolha pessoal e sempre será.

Temos em nós a história, a luta e a alma dos nossos antepassados. Os reis que governaram e os escravizados que lutaram.

Devemos nos amar cada vez mais, só assim amaremos nossos irmãos. E só assim, lutaremos juntos.

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