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Eleições 2022: Se trata da luta contra o racismo, é sobre nossa vida

Regina Lúcia dos Santos e Milton Barbosa, coordenadores do Movimento Negro Unificado (MNU), defendem candidaturas negras de esquerda e salientam luta contra o racismo

Imagem mostra mulher negra segurando cartaz contra o genocídio da população negra e em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em 2019.

Foto: Imagem: Divulgação/Mariana Maiara/Congresso em Foco

14 de setembro de 2022

Corrida eleitoral, indo a todos os lançamentos de candidaturas negras de esquerda em que somos convidados e aí uma militante negra nos pergunta: “Mas vocês não vão ao lançamento de qualquer candidatura negra que chamar?”. Não, claro que não. E aí vem a cobrança: “mas a esquerda partidária não facilita a vida dos negros”. É fato, mas não se trata da esquerda, se trata da luta contra o racismo. Não é sobre a esquerda branca, é sobre nossa vida.

Só retomando a definição clássica de porque esquerda e direita. Ainda a histórinha da revolução francesa: na Assembléia Constituinte durante a Revolução Francesa sentavam-se à direita do salão os burgueses defensores da manutenção da ordem e dos privilégios da aristocracia e do alto clero, e à esquerda sentavam-se a pequena burguesia que queria romper a ordem e lutava pelos direitos dos trabalhadores e dos camponeses.

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Muitas mudanças do ponto de vista político-ideológico aconteceram, de lá para cá, na ordem social mundial. Mas a idéia de que a direita defende os privilégios da elite e a esquerda os direitos dos trabalhadores e despossuídos permanece. E como o racismo é peça fundamental para a manutenção destes privilégios da elite, é impossível nos organizarmos junto à direita para combatermos o racismo. Apesar dos obstáculos criados pela esquerda branca brasileira, que, como todos os segmentos sociais, tem o racismo introjetado, internalizado nos seus fazeres políticos, é na esquerda que quem verdadeiramente luta contra o racismo tem que estar.

Mas e os negros que saem candidatos pela direita? Na verdade, eles são reprodutores do racismo e peças fundamentaids para a manutenção do ideário racista, eles são utilizados para dar consistência ao discurso de que o sistema não é racista, que quem tem mérito alcança, para reforçar a individualidade no fazer político e para confundir a população negra na sua situação de pertencimento racial e tantas outras pequenas questões que dão sustentação a este ideário de morte. Nós, do Movimento Negro Unificado, estamos em campanha, por decisão do nosso congresso, para eleger Lula presidente. Porque enxergamos neste projeto a saída para varrer a extrema-direita que governa o país e que nos jogou em situação de maior vulnerabilidade com o aumento do desemprego, da fome, com as milhares de morte por Covid-19 e outras tantas mazelas onde o povo negro é a maioria absoluta.

Também estamos em campanha para elegermos nos diferentes estados uma grande bancada de deputadas, deputades e deputados. Para colocar no Congresso Nacional também uma grande bancada, para que consigamos dar sustentação aos governos progressistas na implementação de políticas públicas de combate ao racismo e para o bem viver. Em São Paulo, lutamos para eleger candidaturas com história e comprometimento com as lutas do movimento negro no estado. Já temos firmado nossas candidaturas mas estamos trabalhando e esperançando pela formação de uma grande bancada negra nos parlamentos estaduais e federal.

Um pequeno causo para ilustrar a complexidade política brasileira

Outro dia, numa conversa com um motorista de aplicativo negro, ele nos disse com o maior orgulho que era de direita. Perguntamos porque ele dizia que era de direita e ele respondeu que tinha o sonho de ser dono de seu próprio negócio, ser um pequeno empresário. Indagado se ele era rico, se defendia a educação e a saúde privadas, se defendia a universidade para quem podia pagar, se ele achava certo uma pessoa trabalhadora não ter onde morar, sofrer insegurança alimentar e ele respondeu negativamente a todas as indagações. Disse que sonhava que todas as pessoas tivessem uma vida digna.

Então contamos a ele o porquê de direita e esquerda, que éramos de esquerda porque lutávamos contra o racismo e todas as mazelas impostas pela colonização. No final da corrida, ele nos agradeceu por ter aprendido que as pessoas de esquerda eram do bem e que ele era uma pessoa de esquerda. Enfim, ele nos agradeceu por dizer que a imprensa hegemônica, que a educação formal não tem trabalhado para a construção de um conhecimento crítico da nossa realidade.

*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa é um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU.

Leia também: Erica Malunguinho: “Representatividade política não é identitarismo”

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