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Um ano após a maior tragédia ambiental do Brasil: silenciamento e racismo

10 de novembro de 2016

Texto: Miriam Alves / Edição de Imagem: Miriam Alves

Há um ano escrevi o texto Minas do Ouro, Minas da Lama, denunciando uma das maiores tragédia sócio-ambientais ocorridas no Estado de Minas Gerais. Um ano se passou, e o que se encontra no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana, são histórias perdidas, dor, descaso, silenciamento e injustiça. Poderíamos nos reter ao que seria justiça social, as várias famílias atingidas pela barragem, que perderam não somente bens matérias, mais simbólicos e humanos. Memórias, lembranças e histórias, que jamais serão recuperadas, transformaram-se em um vazio, causado pela perda, não apenas de entes queridos, mas a identidade territorial. Para os índios Krenak, o rio é sagrado, parte da cultura e de seu povo. A morte do rio é uma ameaça à identidade indígena e das comunidades tradicionais que vivem ao leito do rio.

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Os crimes cometidos pela Samarco, da mineradora Vale e pela anglo-australiana BHP Billion, ainda se arrastam pela justiça. Mais de 20 pessoas foram indiciadas, mas ninguém foi preso, e ainda não se sabe quando e como a mineradora irá ressarcir todo dano social e ambiental, que se estende de Mariana ao Oceano Atlântico, o que aumenta a sensação de impunidade. Em menos de um ano da tragédia, o mesmo governo que deu entrada à PL 2.946/15, que em caráter de urgência, propunha a reestruturação do Sistema Estadual do Meio Ambiente, a fim de beneficiar grandes empresários, liberou este ano, a construção do Dique S4 no distrito de Bento Rodrigues, a fim de ocultar o desastre, alagando a região, com a promessa de preservar as ruínas da Capela São Bento e o Cemitério.

Essa medida descabida do governo de Minas Gerais, representado pelo Petista Fernando Pimentel, tenta encobrir os crimes da Samarco, assim como tem feito várias tentativas de amenizar a responsabilidade das empresas. Essa ação institucionalizada pelo Estado tem um profundo impacto racial, pois recaem sobre as etnias e populações mais vulneráveis, que ainda vem sofrendo com os impactos da poluição e morte da maior bacia hidrografia do sudeste e de sua fauna, dos resíduos tóxicos que vem causando adoecimento da população.

Devemos considerar o racismo ambiental como um problema crônico, que vem atingindo representantes das comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, entre outros, que ao se encontrarem cerceados a vida no campo e sem condições para manter sua cultura, acaba migrando para os centros urbanos e sem condições dignas de sobrevivência, estando exposta a miséria, a repressão do Estado, como no caso da Ocupação Isidora, que se configura como uma dos maiores conflitos latifundiários da América Latina, e um dos 7° maiores do mundo, a mais poluição, causadas pelas indústrias, lixões, etc., e o desenvolvimento de doenças mentais, causadas pelos efeitos psicossociais do racismo.

Enquanto diáspora sabemos o que é estar nesse não-lugar, pois o lugar distribui nossas relações de coexistência no espaço, que formula nossa identidade, o lugar que media a relação entre o sujeito e o mundo, esse lugar não cartesiano, que não distingue homem de natureza, mas que constrói, solidifica nossas bases, capilariza nossas relações, constrói laços e formas de pertencimento, não podem ser apagadas, inundadas ou silenciadas, não podem transformar Bento Rodrigues em um não-lugar, em uma Pompéia mineira. Assim como as três milhões de pessoas atingidas direta e indiretamente entre Mariana e o Oceano Atlântico.

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