Alan Diego completaria 24 anos de vida no próximo dia 20 de março, mas pouco mais de um mês antes do aniversário foi morto por policiais militares. O crime ocorreu no dia 2 de fevereiro, por volta das 21h, após uma abordagem na Vila São Sebastião, na cidade de Franca, no interior de São Paulo.
Os dois policiais militares do 15º batalhão disparam 18 vezes e oito tiros acertaram as costas do rapaz que trabalhava em uma barbearia especializada em estética afro. A morte do jovem gerou vários protestos organizados por amigos e pelo Movimento Negro. Segundo militantes, as manifestações foram reprimidas com violência e bombas.
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“Alan não é só número e estatística. Alan é vida, tem família, tem história, tem contribuição com a sociedade. Sua vida é importante, mas sua voz foi calada”, diz um trecho da nota assinada pela Comdecon Franca, Coletivo Afrontar, Coletivo As Pretas Franca, Grupo de Trabalho e Estudos Luana Barbosa e Nupe Franca, Casa do Hip Hop de Franca , Entidades Negra Católica Brasileira e da América do Sul e Educafro.
De acordo com a versão da PM e que foi apresentada nos depoimentos para a elaboração do boletim de ocorrência, o jovem teria corrido no momento da abordagem e sacado uma arma. Testemunhas que optaram por não se identificar, por questões de seguranças, têm outra versão do caso.
“A viatura chegou e abordou ele, ele saiu correndo em direção à rodovia, começaram a dar tiros nele. Nisso ele caiu no chão e os policiais foram até ele e pediram para levantar a camisa. O Alan disse: ‘Perdi, senhor, perdi’. Aí os policiais mandaram ele virar de costas e dispararam um tanto de tiro”, conta uma testemunha. Segundo as pessoas que viram o crime, o rapaz estava usando o wifi da padaria e não estava armado. Alan Diego trabalhava como entregador em uma empresa de serviços gerais há um ano, tinha registro em carteira e uma filha de três anos e um enteado de um ano. Os amigos e familiares desconfiam da versão na qual ele teria sacado uma arma e atirado na polícia.
“Não podemos aceitar qualquer política ou conduta de extermínio dos cidadãos e cidadãs, principalmente a juventude pobre e negra. A todes conclamamos a união para que nosso grito seja ouvido! Por Alan, por nossas filhas e filhos, nossas família, por nossas irmãs e irmãos, parem, não aguentamos mais morrer!”, diz o trecho final da nota elaborada por amigos em conjunto do movimento negro.
‘Excludente de ilicitude vai custar muitas vidas negras’
A letalidade policial, sobretudo contra a juventude negra em todo o país, pode aumentar por conta dos avanços de projetos de lei apoiados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) para o fortalecimento da interpretação do excludente de ilicitude, do artigo 23 do Código Penal. A medida se trata de uma espécie de “licença para matar” para agentes de segurança pública e militares. É o que explica o pesquisador Dennis Pacheco, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
“A ampliação do excludente de ilicitude abre caminho para aumentar o uso da força letal tanto pelas polícias quanto pelo exército.A gente está correndo a passos largos em direção ao aumento da frequência de cenas comuns de execução de jovens negros por policiais. Isso vai custar muitas vidas negras, como foi o caso do Alan”, disse Pacheco.
Outro lado
Segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), a morte de Alan Diego é investigada pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Franca, que instaurou inquérito policial. Em nota à agência Alma Preta, a pasta destacou que “a equipe policial realiza diligências para esclarecer a ocorrência. As armas envolvidas na ação foram apreendidas e encaminhadas à perícia”.
Os policiais militares que estavam na abordagem e atiram 18 vezes no entregador serão investigados também em um inquérito interno (IPM). Ainda segundo a nota, “os agentes envolvidos permanecem em funções administrativas até a conclusão do inquérito”.