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Fundação Palmares nomeia militar sem experiência sobre as relações raciais para coordenar órgão

27 de maio de 2020

Segundo Rosane Borges, ex-coordenadora geral do CNIRC, a falta de conhecimento trará prejuízos para o desenvolvimento do trabalho

Texto / Pedro Borges I Edição / Simone Freire I Imagem / Ascom/Palmares

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A Fundação Cultural Palmares nomeou, no dia 15 de maio, Raimundo Nonato, 1° Sargento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, como coordenador-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC). O órgão, vinculado ao Ministério do Turismo, tem o objetivo de promover a cultura afro-brasileira.

Além de bombeiro, Raimundo Nonato tem outras formações no currículo, nenhuma focada nos estudos da cultura ou população negra no Brasil. O sargento é graduado em Música pelo Musicians Institute, na Califórnia (EUA), é certificado pelo curso de extensão em Inglês pela Hollywood High School, graduado em Processamento de Dados com pós-graduação em Gestão de Pessoas pela Universidade Católica de Brasília e, atualmente, bacharelando em Direito.

Apesar da formação acadêmica, Nonato não tem vínculo com o movimento negro ou se envolvido com temas relacionados à questão racial no país. Segundo Rosane Borges, que foi coordenadora-geral do CNIRC em 2013 e é professora colaboradora do Grupo de Pesquisa Estética e Vanguarda (ECA-USP), a ausência de experiência por parte de Raimundo Nonato na área das relações raciais será um problema para o órgão.

“Combater o racismo e desenhar políticas de promoção da igualdade racial, que é o papel do gestor público, exige o domínio de como o racismo se efetiva e as várias camadas dele. Quando a gente tem pessoas sem expertise, sem o domínio de como se efetivam as relações raciais no Brasil, você nunca alcança os problemas sociais”, explica.

Rosane Borges acredita que a nomeação do novo coordenador-geral do CNIRC está em acordo com as propostas políticas da atual gestão da Fundação Cultural Palmares, no comando de Sérgio Camargo, e do governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido).

“O presidente da Palmares está em consonância com o que é esse governo. Para cada nomeação, a gente sabe que se trata da reafirmação ostensiva brutal de eles dizerem ‘nós estamos aqui para matar, asfixiar, para não fazer acontecer’”, explica.

A nomeação de Raimundo Nonato, também está em acordo com a política do atual governo de indicar profissionais com trajetória militar. “A presença dos militares também é um outro projeto. Eles vão dominando, cercando todas as áreas”, porque bombeiro também é militar, e reafirma de maneira bastante ostensiva qual é a função de governar. A gente tem a cada nomeação que a gente sabe é a reafirmação ostensiva brutal de dizer que nós estamos aqui para matar, asfixiar, para não fazer acontecer”, diz Borges

O órgão

Segundo o site da Fundação Cultural Palmares, o CNIRC tem o objetivo de “fomentar atividades de estudos, pesquisas e de produção e sistematização de dados e informações relativas à cultura afro-brasileira, além da disseminação de informações qualificadas de temática negra”.

As principais ações de responsabilidade do órgão são a publicação da coleção Ciclo de Palestras Conheça Mais, exposições de arte com a temática afro e de produções artistas negras e negros, parcerias com institutos e centros de pesquisas, universidades e congêneres para produção de conhecimento sobre as culturas negras brasileiras, Cine Palmares, Prêmio Oliveira Silveira, entre outras.

Em entrevista ao site da Fundação, Raimundo Nonato disse que a meta é a de dar continuidade aos “projetos que funcionam” e implantar “uma nova gestão com DNA próprio”.

A equipe de reportagem do Alma Preta entrou em contato com o órgão para questionar os critérios para a escolha de Raimundo Nonato e se a falta de experiência com o tema das relações raciais não pode prejudicar o trabalho frente ao CNIRC. Até o fechamento do texto, nenhum posicionamento havia sido emitido.

 

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