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Manifestantes ‘silenciados’ cobram maior financiamento climático durante COP29

Em protesto em uma das vias principais da Conferência do Clima, ativistas apontam influência de empresas poluentes nas negociações; manifestantes têm uma grande expectativa para COP no Brasil, em 2025
Manifestantes se reunem em frente ao Caspian Hall para protesto silencioso, Baku, 16 de novembro de 2024

Foto: Vinicius Martins/Alma Preta

16 de novembro de 2024

Baku – Uma junta global de organizações e ativistas se reuniu na tarde deste sábado (16) para realizar o maior protesto da COP29 até o momento, no Azerbaijão. Os manifestantes adentraram o Caspian Hall, uma das maiores salas de reunião da conferência, para criticar a ineficiência nas negociações, a presença de representantes de indústrias poluentes, uma delas, a de petróleo, e o silenciamento de atos políticos.

Diversos ativistas seguravam cartazes com os dizeres ‘silenciado’ e faziam gestos com o dedo indicador nas bocas. Há relatos constantes sobre a dificuldade em realizar atos políticos na edição deste ano. Uma das regras citadas pelos presentes é a impossibilidade de gritar e fazer barulho nas vias da conferência.

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Amanullah Porag carrega megafone com os dizeres ‘silenciado’ em alusão às restrições para protestos na COP deste ano, Baku, 16 de novembro de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)

“Nós não somos autorizados a dividir nossas demandas. Tem uma regra de que você não pode fazer barulho, você não pode se pronunciar e usar o microfone. É esse o motivo de usarmos esse símbolo de ‘silenciado’, porque o nosso silêncio fala mais do que mil palavras”, afirma Amanullah Porag, diretor-fundador da Juventude NDCs, de Dhaka, em Bangladesh.

Após momento de agitação dentro do Caspian Hall, a marcha de ativistas realizou um protesto silencioso em uma das principais vias de passagem no centro de conferências no Baku Stadium. 

Baku, 16 de novembro de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)

Mudos ou entoando cantos abafados de ‘hum, hum, hum’, centenas organizaram uma fila semi circular com cartazes e bandeiras críticas aos combustíveis fósseis, à participação do mercado capitalista nas negociações e aos países desenvolvidos.

“Eu estou na COP para demandar os países do Norte para pagarem o financiamento climático. A Filipinas está enfrentando um tufão, mais um em menos de um mês, que está matando pessoas, destruindo casas e bairros”, explica a filipina Marinel Ubaldo, membra do Instituto para Juventude por Diplomacia Climática, uma das organizações presentes.

O Acordo de Paris, estabelecido em 2015, na COP21, determina um montate de US$ 100 bilhões por ano das nações desenvolvidas para o financiamento climático de adaptações e mitigação de desastres nos países em desenvolvimento. Até o momento, a resolução é implementada de forma lenta ou aquém das expectativas na avalição de especialistas e ativistas.

Baku, 16 de novembro de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)

Há um anseio para a edição deste ano, considerada a COP do financiamento, de que os acordos consigam ser implementados com mais eficiência e aumentem os montantes para os países mais pobres. No entanto, diversos ativistas apontam que os países desenvolvidos colocam entraves aos repasses.

“Algumas organizações estão pedindo mais, por trilhões de dólares para colocar no financiamento climático, mas a gente também tem que enfatizar que quando o Norte global está colocando financiamento, eles deveriam fazer do jeito certo, e o jeito certo não é por empréstimos, mas por doações”, afirma Marinel.

Uma delegação de lobistas

De acordo com um relatório publicado pela Kick Big Polluters Out (KBPO) – ‘Coloque os grandes poluidores para fora’, em tradução livre – uma coligação de ONGs ao redor do mundo, ao menos 1773 lobistas foram autorizados a participar da COP deste ano. 

O número compete com as delegações das nações presentes. Se fossem um país, os lobistas seriam o quarto maior grupo, atrás apenas de Azerbaijão, Brasil e Turquia.

“Tem mais de 700 lobistas da indústria do petróleo na COP29, mais do que dez das delegações somadas dos países mais vulneráveis. Eles estão bloqueando as negociações nas salas em que a gente não consegue entrar. É por isso que essa COP não está atingindo as suas expectativas”, afirma o bengali Amanullah Porag.

Baku, 16 de novembro de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)

Para Marinel Ubaldo, além do enfrentamento ao poder das grandes corporações, o contexto atual impôs a necessidade de realizar um ato mais incisivo na edição de Baku. “Os líderes mundiais estão postergando o que deveria ser entregue nesta COP. Essa COP não deveria falhar, porque nós não podemos mais falhar. (…) Nós não podemos esperar por outra COP para fazer movimentos históricos”, explica.

A dificuldade em avançar em pautas concretas aumenta a expectativa das organizações da sociedade civil ao redor da COP30, em Belém, por mais voz e participação nas decisões. 

“Como o Brasil tem chamado a COP de COP das pessoas, nós temos grandes expectativas do Brasil. O Brasil é onde isso tudo começou, na convenção do Rio de 1992. A gente espera que o Brasil entregue uma COP depois de tantos eventos que falharam”, afirma Amanullah Porag.

O Brasil ainda não definiu oficialmente uma presidência para a COP30. O anúncio oficial deve acontecer apenas em 2025. Diversos movimentos sociais têm se mobilizado para pressionar o país a adotar medidas que fortalaçam as perspectivas de comunidades locais.

“Eu espero que o Brasil seja histórico. Existe uma grande pressão sobre a presidência do Brasil. Nós precisamos fazer melhor da próxima vez, que as vozes das pessoas das comunidades sejam ouvidas”, conclui Marinel.

O protesto em imagens:

  • Baku, 16 de novembro de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)
  • Vinicius Martins

    Jornalista formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). É sócio e cofundador e diretor multimidia da Alma Preta Jornalismo. Antes, foi jornalista de vídeo na Folha de S.Paulo e gestor multimeios no Instituto Vladimir Herzog.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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