Obras exaltam a potência tecnológica e cultural do continente africano. Mais de 180 mil pessoas visitaram a exposição, que em breve estará em cartaz em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.
Texto / Aline da Mata
Imagem / Arjan Martins
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Ex Africa é o nome da maior exposição de arte contemporânea africana exibida hoje no Brasil. A mostra, que já recebeu mais de 180 mil visitantes no Rio de Janeiro e reúne o trabalho de dezoito artistas africanos e dois brasileiros, faz um especial panorama sobre a África contemporânea. As obras podem ser apreciadas pelo público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Rua Primeiro de Março, 66, centro, das 9h às 21h, exceto às terças-feiras, quando o museu não abre.
Senegal, Gana, Angola, África do Sul, Benin, Brasil e Nigéria são as origens dos artistas, que colaboraram com fotografias, pinturas, esculturas, performances audiovisuais e filmes. As seções são divididas em quatro eixos: Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões Musicais.
O nome Ex Africa foi retirado da frase do escritor Caio Plínio: “Ex Africa semper aliquid novi” , que em português significa “da África sempre há novidades a reportar”. Segundo o curador da exposição, Alfons Hug, o continente vive um efervescente processo de renovação criativa e artística.
Num momento em que a cidade do Rio de Janeiro passa por problemas na segurança pública, com a maior vulnerabilidade da população negra, a exposição vem para enaltecer a beleza afro-brasileira e apresentar com ironia o fato de os africanos terem se desenvolvidos tecnologicamente antes dos europeus.
Bem no centro do Rio de Janeiro, próximo às escavações do antigo mercado de escravos no Cais do Valongo, do Cemitério dos Pretos Novos e da Pedra do Sal, o Centro Cultural Banco do Brasil expõe em várias salas a arte contemporânea do continente africano, com recordações aos saques sofridos no passado pelos europeus e perspectivas para as novas gerações de afrodescendentes da diáspora.
Na primeira sala, Ecos da História, é possível observar as fotografias de Leonce Raphael Agboudjelou, que mostram pessoas e seus familiares perdidos na época da colonização. São fotos da cidade natal do fotógrafo, Porto Novo, Benim, município fundado por portugueses e que hoje está em ruínas.
Obra do artista Leonce Raphael Agbodjelou presente na exposição (Imagem: Leonce Raphael Agbodjelou)
Ao fundo, é possível ver instrumentos originais de tortura utilizados nas pessoas para o trabalho forçado em um suporte criado pelo artista Ndidi Dike. Neste mesmo ambiente, a sequência fotográfica de Kudzanai Chiurai deixa nítido como o homem branco se aproxima e domina o território alheio para a colonização.
Na segunda sala, Corpos e Retratos, o que mais chama atenção é a genialidade de Omar Victor Diop ao se vestir de várias personagens que fizeram parte da construção histórica colonial do continente e de Senegal. Em todas as fotografias, ele segura uma bola de futebol, ou algum instrumento em alusão ao esporte. Ao mesmo tempo que o artista se refere a personalidades históricas, questiona o lugar do homem africano no imaginário contemporâneo, sempre ligado ao esporte.
Neste espaço também se encontram as belíssimas pinturas do brasileiro Arjan Martins. Dedicadas aos navios negreiros, verdadeiras câmaras de horror, o artista faz uma reflexão sobre um sistema micro cultural e político trazido nos navios, carregados de esperança de regressar a terra natal. Ainda em Corpos e Retratos, Dalton Paula pintou o drama de passageiros anônimos, intitulados de Ex-votos A/B/C/D.
Desenho de Dalton Paula exposto na mostra que acontece no Rio de Janeiro (Imagem: Dalton Paula)
A mostra traz uma performance do artista Jelili Atiku que mistura a linguagem corporal ao figurino, que chama a atenção do público para os problemas sociais do continente e mostra frases estereotipadas sobre a África traduzidas em Iorubá.
A sala Explosões Musicas apresenta um pouco da música contemporânea da Nigéria e de outros países. É um espaço dedicado ao Afrobeat com exibição de clipes divididas em quatro partes: God, Money, Power e Sex. Os ritmos se assemelham com as batidas do funk, axé e hip-hop brasileiro.
Na parte intitulada O Drama Urbano está a instalação Point City, em que todas as telas são digitais e simulam as janelas do antigo arranha-céu que leva o mesmo nome, em Joanesburgo. As 12 telas assinadas pelos artistas Sul-africanos Mikael Sobotsky e Patrick Waterhouse alternam as imagens para dar a sensação de movimento mesmo que a pessoa não saia da frente do quadro. Ao final da sala passa um vídeo, narrado em tom melancólico, do artista angolano autodidata Kiluanji Kia Henda sobre a cidade de Luanda, deserta de pessoas no momento da retirada maciça de portugueses, em maio de 1975.
A exposição, sucesso na cidade do Rio de Janeiro, fica no CCBB até dia 26 de março. Depois, pousa em São Paulo entre os dias 28 de Abril e 16 de Julho, quando segue para Belo Horizonte e Brasília.
Vale muito conferir as 80 obras de Ex Africa e sair do museu com uma nova perspectiva do continente ancestral.