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‘Rapunzel torradinha’: ex-funcionária negra denuncia racismo na Renner

Trabalhadora demitida denunciou situações de racismo de outra profissional da empresa; vítima pede indenização de R$ 202 mil por danos morais
Imagem mostra fachada da loja Renner no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, nas cores vermelha e branca.

Foto: Reprodução

2 de novembro de 2023

Uma mulher negra, que foi funcionária da Renner por quase três anos, acusa a fiscal líder de a ofender de maneira racista no ambiente de trabalho. O caso aconteceu na loja da varejista no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana.

Fabíola* denunciou a situação no dia 18 de agosto de 2022, quando ouviu de Carla* que ela era uma “rapunzel torradinha”, em referência à cor da pele e ao cabelo trançado da trabalhadora. O processo trabalhista contra a Renner foi movido no dia 12 de agosto de 2023.

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Depois de ser ofendida, a funcionária disse que enviou um e-mail para o setor de denúncias da Renner. Na mensagem, ela diz que “já faz quase dois anos que sofro racismo em meu ambiente de trabalho” e afirma que está disposta a “levantar” a “bandeira” para defender seus direitos, que se sentiu “discriminada” pelo o que ouviu de Carla e que se encontrava “totalmente desmotivada e triste com essa situação pois o mínimo que eu mereço e exijo é respeito”.

Após o e-mail enviado, Fabíola conta que os responsáveis pelo setor de Recursos Humanos da Renner afirmaram que não poderiam tirar Carla ou mesmo a vítima daquela unidade. A atitude foi descrita como “absurda” por parte dos advogados de acusação.

Para o advogado Marco da Cruz, a agressora foi “premiada” com a ausência de punição. Depois disso, Carla foi  transferida para outra unidade e, Fabíola, dispensada por parte da Renner. Segundo o advogado de acusação, a injúria racial constatada deveria ter sido punida com uma demissão por justa causa.

As ofensas sofridas por Fabíola geraram desconforto mental e emocional, com a necessidade de serviços de psicologia e do uso de medicações. Os laudos apontam para “sintomas de sofrimento emocional persistente, dentre outras questões relacionadas ao cenário do trabalho”. Ela, que nunca fez sessões de terapia, precisou de 20 e chegou a ser afastada por três dias do trabalho, ao longo do tempo.

Agressora continuou a ofender a funcionária ao longo do processo judicial

Durante o processo, Fabíola relata ter ouvido outras ofensas racistas por parte de Carla, como “seu cabelo está parecendo de brócolis” e “gente, a pretinha agora está com tranças loiras”. Carla também expressou frases como “minha QRU preferida” ou “minha QRU de calcinhas preferida”, afirmações entendidas como caluniosas. O termo “QRU”, dentro do setor de vigilância e fiscalização, significa uma “pessoa suspeita”.

Diante das acusações, o advogado de Fabíola pede uma indenização por danos morais de R$ 150 mil. Ao processo, se somam outras situações, como diferenças salariais no âmbito trabalhista, o que resulta em uma ação com valores totais de R$ 202 mil.

A acusação também sinaliza que houve um desvio e acúmulo de função por parte dos serviços de Fabíola. Ela primeiro foi contratada como assistente de loja e a partir de julho de 2021 passou a exercer funções de “assistente de vendas e visual merchandising”. Ela, contudo, só foi promovida de maneira oficial para o cargo a partir de abril de 2023, com o então ajuste do salário. A acusação pede a diferença de valores pagos neste intervalo de tempo.

Em nota, a Renner sinalizou que não comenta processos em andamento.

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  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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