PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Homem foi morto pela PM com tiro de fuzil na cabeça na Baixada Santista

Crime ocorreu em Cubatão e os policiais contaram que o homem chegou com vida no hospital; familiares contestam versão da polícia, dizem que rapaz morreu no local, não andava armado e foi torturado
Jonathan de Oliveira é mais uma das vítimas da Operação Verão na Baixada Santista

Foto: Jonathan de Oliveira é mais uma das vítimas da Operação Verão na Baixada Santista

4 de abril de 2024

Jonathan de Oliveira, de 34 anos, foi morto pela polícia no dia 8 de fevereiro de 2024, depois de uma incursão dos agentes de segurança na Vila dos Pescadores, em Cubatão, na Baixada Santista (SP). Os policiais do 6° Batalhão de Ações Especiais da Polícia (BAEP) Cruz, Jonathan Linares e Daniel Almeida relataram que o homem estava armado, com drogas e objetos do tráfico.

Cláudia*, familiar da vítima, contesta a versão dos policiais e relata que o rapaz não foi apenas baleado, mas também torturado. “Ele ficou todo arrebentado, machucado, não tinha onde não tinha marca”. Ela conta que o local estava repleto de cordas, que foram utilizadas para causar dor e sofrimento no rapaz. Fotos tiradas da cena do crime mostram cômodos quebrados, como janelas, manchas de sangue pelo chão e uma porta derrubada.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Por conta da perda, Claudia diz viver à base de remédios e tem ocupado todo o tempo com a limpeza da casa. “Vocês não sabem a dor, eu só vou ter paz no último dia da minha vida, no último suspiro antes de morrer”.

Imagem da cena do crime com marcas de sangue. Foto: Anônima
Imagem da cena do crime com marcas de sangue. Foto: Anônima

O fato ocorreu às 22h45, na altura da Avenida Ferroviária, na Viela Caminho São Marcos, na Vila dos Pescadores. O crime foi registrado no 2º Distrito Policial de Cubatão pelo delegado Pedro Augusto Correia como Morte Decorrente de Intervenção Policial, como tentativa de homicídio por parte de Jonathan de Oliveira contra os policiais e porte de drogas.

Os agentes de segurança informaram que faziam uma patrulha na região com outras equipes da Polícia Militar, quando iniciaram uma incursão a pé pelas vielas da comunidade. Eles afirmam que logo visualizaram um homem negro, magro, com bermuda colorida, camiseta vermelha e tênis saindo de uma das casas de palafita. Segundo o Boletim de Ocorrência, esse homem percebeu a presença dos policiais do BAEP, sacou uma pistola e efetuou “diversos disparos” contra os agentes de segurança. Neste momento, o sargento Daniel Almeida e o soldado Jonathan Linares efetuaram dois disparos de fuzil cada um. Alvo dos tiros, a vítima caiu no mangue, assim como Linares, que tentava se esquivar das agressões. Linares ainda conta que percebeu a vítima consciente e com a pistola em mãos, e por isso efetuou mais um tiro de fuzil.

De acordo com o Boletim de Ocorrência, os agentes de segurança encontraram dois rádios de comunicação, um caderno de contabilidade, duas balanças de medição, 763g de maconha, porções de crack e 1,84kg de cocaína.

Depois da ação, os policiais dizem que chamaram o serviço do Samu, que levou a vítima com vida para o Pronto-Socorro de Cubatão. Vídeo feito por testemunhas mostra Jonathan de Oliveira sendo retirado de um beco com o corpo todo coberto com um lençol, cercado por diversos policiais e agentes do serviço de saúde. Para os familiares, o fato do rapaz estar, inclusive, com o rosto coberto é um indicativo de que ele havia falecido no local.

Entenda o caso

Naquele dia, Jonathan de Oliveira decidiu ir para a casa de um colega que estava internado com tuberculose, para cuidar dos cachorros e gatos do dono da residência. Ele então entrou na casa do amigo e depois de tratar dos animais, se preparava para retornar para a sua residência, quando a polícia chegou ao local e arrebentou a porta. O favor não era um trabalho, era uma forma de colaborar com o amigo que estava em recuperação.

As testemunhas que foram a cena do crime viram um saco, onde dizem que colocaram a cabeça de Jonathan de Oliveira durante os momentos de tortura, e que amarraram o pescoço dele com as cordas. Os relatos da vizinhança são de que o rapaz gritava por socorro, pedia ajuda e afirmava que estava prestes a morrer. Cláudia conta que no momento de reconhecer o rapaz, ele estava sem uma parte da cabeça por conta do disparo de fuzil na região.

Cláudia se diz incrédula com o trabalho da polícia. Ela considera impensável que uma pessoa consiga torturar alguém e ter “coragem de chegar em casa, depois de fazer uma barbaridade com um ser humano, dar um beijo no filho, filha, esposa, jantar e depois dormir”.

Jonathan de Oliveira foi enterrado no Cemitério Municipal de Cubatão, no dia 9 de fevereiro de 2024. A declaração de óbito descreve a causa como um traumatismo do crânio causado por disparo de arma de fogo, além dos ferimentos nas regiões do peito e do abdômen.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), em nota, afirmou que “em 7 de fevereiro, um homem de 34 anos disparou contra uma equipe da PM, na Vila dos Pescadores, em Cubatão. A equipe interveio atingindo o homem, que foi socorrido pelo SAMU ao pronto-socorro da cidade, mas não resistiu. O caso foi registrado na Delegacia de Cubatão, onde também foram apresentadas as porções de entorpecentes e demais equipamentos utilizados pelo tráfico de drogas apreendidas na ocorrência. A pistola calibre 380 usada pelo suspeito e as armas dos policiais foram encaminhadas à perícia. O caso é investigado pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento da respectiva corregedoria, Ministério Público e Poder Judiciário”.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano