A mais longeva monarca britânica da história, que passou 70 anos no trono, morreu nesta quinta-feira (8), aos 96 anos, no castelo de Balmoral, na Escócia. A Rainha Elizabeth II foi considerada por pessoas do movimento negro como um símbolo do colonialismo e do racismo moderno. O poder hegemônico do Império Britânico, ainda pouco difundido, foi responsável por subjugar 25% da população mundial, no auge de sua atuação.
De acordo com o material didático divulgado pela professora Joelza Ester Domingues, em 1920, o Império Britânico dominava cerca de 458 milhões de pessoas e abrangia 20% das terras do planeta. Apenas no continente africano, o Reino Unido colonizou cerca de um terço do território.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A deputada estadual de Minas Gerais Andréia de Jesus (PT-MG) escreveu em suas redes sociais que a herança que fica, com a morte da monarca britânica, é escravocrata, aristocrata e colonizadora. “Sua influência monárquica é racista e de opressão para o povo negro. Aclamada pelo mundo globalizado, perversa para a nossa ancestralidade”, publicou. “Solidariedade a todos que sofreram com o Apartheid!”, concluiu a parlamentar.
Em 2006, Tony Blair, líder do Partido Trabalhista e primeiro-ministro britânico (1997 a 2007), pediu desculpas acerca do papel da Grã-Bretanha no comércio transatlântico de pessoas escravizadas, descravendo a prática como um “crime contra a humanidade”.
Porém, essa opinião não é unânime entre os oligarcas e grande parte do povo inglês. Em 2016, uma pesquisa feita pela YouGov mostrou que 44% dos britânicos tinham orgulho da história do colonialismo.
Em toda a história, apenas 22 países no mundo não foram invadidos pelo Reino Unido: Andorra, Belarus, Bolívia, Burundi, Chade, Costa do Marfim, Guatemala, Ilhas Marshall, Liechtenstein, Luxemburgo, Mali, Mônaco, Mongólia, Paraguai, Quirguistão, República Centro Africana, República do Congo, São Tomé e Príncipe, Suécia, Tadjiquistão, Uzbequistão e Vaticano.
Os dados são do historiador inglês Stuart Laycock, que listou no livro “All the Countries We’ve Ever Invaded: And the Few We Never Got Round To” (Todos os países que já invadimos: e os poucos a que nunca chegamos, em tradução literal).
Com o auxílio do material didático de Joelza Domingues listamos cinco fatos vergonhosos da história britânica:
1. Escravismo e tráfico de pessoas
O comércio britânico de escravizados começou em 1562, durante o reinado de Elizabeth I. Os britânicos dominaram o tráfico de pessoas no Caribe estendendo-o depois às 13 colônias inglesas na América do Norte. Estima-se que até 1807, quando o tráfico foi proibido, os navios escravocratas britânicos teriam transportado cerca de 4 milhões de pessoas negras.
2. Guerra e campos de concentração na África do Sul
A descoberta de minas de diamante, ouro e ferro no território atraiu a atenção dos britânicos para estender seu domínio por todo o sul da África. Então, eles provocaram uma guerra entre os anos de 1880 e 1881, e outra de 1899 a 1902. Os campos de centração foram construídos no final da guerra. Cerca de 100 mil colonos foram presos e 27 mil deles morreram, sendo 24 mil menores de 16 anos. A prática foi responsável pelo extermínio de 50% da população infantil.
3. Tortura no Quênia
Milhares de quenianos sofreram todo tipo de tortura durante a Revolta do Mau-Mau (1952-1963). Os Mau-Mau lutavam para libertar o país dos colonizadores britânicos que, desde 1888, dominavam o país. Estimativas falam que até 100 mil pessoas morreram. Em 2013, o governo britânico pagou em torno de 30 milhões de libras de indenização atendendo às reivindicações feitas por mais de 5 mil veteranos Mau-Mau.
4. Massacre na Índia
Em 1919, uma multidão manifestava-se de forma pacífica contra o domínio britânico em Amritsar, cidade sagrada no norte da Índia. O governo britânico tinha ordenado que não houvessem protestos. Então, o exército fechou a única saída da praça e abriu fogo contra a população. Foram 379 mortos e 1200 feridos em 10 minutos de fuzilamento. Na versão britânica, foi um ato de defesa onde 90 soldados tinham que conter a fúria de 25 mil indianos.
5. Fome deliberada na Irlanda e Índia
Em 1943, cerca de 3 milhões de pessoas morreram de fome e desnutrição em Bengala, na Índia, sob administração do Ímpério britânico. Em guerra com o Japão pelo território da Birmânia, o maior produtor e exportador de arroz para a Índia, a Inglaterra perdeu o controle sobre esse território. O primeiro-ministro à época ordenou que os estoques de alimento fossem destinados para os soldados e ainda enviou grandes quantidades de suprimentos para a Grécia.
Leia mais: Ato de 7 de setembro custou 25% do valor pago a Portugal pela Independência