Nesta terça-feira (27), a Iniciativa Negra por uma Política sobre Drogas lançou a pesquisa “Realidades Invisíveis: políticas de drogas, megaprojetos e a sobrevivência de mulheres negras cis, trans e travestis na Amazônia paraense”, que busca analisar o contexto de violência e vulnerabilidade vivenciado pelas mulheres negras em decorrência da guerra às drogas no Pará.
O estudo foi desenvolvido com o apoio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e entrevistou 60 mulheres dos municípios de Altamira e Belém.
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De acordo com a pesquisa, o estado possui a maior proporção de pessoas negras no país, com cerca de 76% da população paraense composta por pretos e pardos. Por lá, 65% das mulheres negras residentes em Belém e 60% em Altamira relataram ter sofrido discriminação racial.
Dados do relatório “Elas Vivem”, produzido pela Rede de Observatórios de Segurança, indicam que o estado registrou 244 eventos de violência contra mulheres em 2023, dos quais 43 eram feminicídios. No estudo da Iniciativa Negra, 70% das moradoras de Belém relataram ter experienciado episódios de violência física. Em Altamira, o percentual foi de 75%.
Em relação à renda mensal, 63% das mulheres belenenses e 43% das entrevistadas de Altamira recebem uma remuneração de um a três salários mínimos (cerca de R$ 1.412 a R$ 4.236). Na capital, 33% delas afirmaram receber renda inferior a um salário mínimo, situação compartilhada por 36% das moradoras de Altamira.
A vulnerabilidade habitacional também se destacou no levantamento. Em Belém, 43% das mulheres negras cis, trans e travestis vivem em áreas sujeitas a alagamentos e enchentes recorrentes, e outras 25% vivem em assentamentos precários. Para as entrevistadas altamirenses, o índice foi de 53%.
Para Dandara Rudsan, assessora de advocacia da Iniciativa Negra no Pará, o levantamento expõe as fragilidades dos sistemas de saúde e atendimento à mulheres moradoras de locais vulneráveis.
“Nosso estudo só comprova o que vemos todos os dias nesses territórios: mulheres cada vez mais expostas à violência sendo violentadas também pelo Estado que é quem deveria cuidar delas, assegurando seus direitos e liberdades individuais”, afirma em nota.
Para o lançamento da pesquisa, a organização realizará uma mesa de discussão com as coordenadoras, pesquisadores e especialistas envolvidos na produção do estudo, que acontece a partir das 15h na Sede da Sociedade Paraense em Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).