“O Bekoo Das Pretas surge da minha necessidade de estar em lugares de acesso, qualidade e acompanhada do meus. É dessa necessidade de ter a música que eu acho boa, vestida com o look que eu acho lindo, com o cabelo estilizado da forma que eu gosto, tomando a cerveja gelada, o drink colorido, sendo bem recebida, acolhida e não fazer isso sozinha”, explica a advogada Priscila Gama, CEO da iniciativa.
Foi com a finalidade de promover eventos musicais sem julgamentos e focados em propiciar a melhor experiência para as pessoas negras que o movimento idealizado pela advogada começou em 2016, no estado do Espírito Santo. Priscila conta que surgiu um questionamento no início da criação do projeto sobre o que seria importante as pessoas sentirem e sobre os direitos que são negados às pessoas negras no Brasil.
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“Primeiro reduzem a humanidade da gente, depois reduzem nosso direito às normalidades, ou seja, ao sonho, aos desejos, à pluralidade, ao ir e vir, ao mudar de ideia, ao viver a vida e aproveitar as oportunidades. Com isso, reduzem a nossa autoestima, o que mina as nossas possibilidades e os nossos sonhos”, explica Priscila.
“Então o que queria sentir com o Bekoo? Como é que eu queria sair de lá? E eu queria sair de lá exaustivamente revigorada. Havia um querer me reconhecer no outro, querer estar com o outro e me sentir potencializada. Era um querer dançar vestida bonita do jeito que eu acho e com o reconhecimento dos nossos signos e dos nossos padrões”, ressalta a idealizadora da iniciativa, também CEO do Das Pretas, laboratório de inovação e tecnologia social, 100% afrocentrado e fundado em 2015.
Além de um movimento, é um sentimento
A empreendedora Priscila Gama relata que a construção do Bekoo Das Pretas acontece para ele se tornar um hub de atividades e de ações focadas no fortalecimento negro.
Dentro do movimento, além dos eventos que também lançam artistas na cena musical, há também um bloco de carnaval de rua em Vitória (ES) e capacitações de produção cultural, transformação digital, processos de criatividade e também dedicados à criação e a aceleração de negócios de arte e cultura periférica, subsidiando o conhecimento técnico e o intercâmbio com pessoas da periferia que articulam.
“As pessoas tem uma ideia de criatividade como se fosse uma coisa milagrosa e, na verdade, tem método para isso. Então a gente traz esse diálogo. Eu acho que, se eu pudesse resumir o tipo de formações que a gente faz, são pontes de acesso para o conhecimento. Porque a gente não pode criativizar ou sonhar sobre o que a gente não conhece”, destaca a empreendedora.
“Estou nos Estados Unidos também articulando a criação de um fundo de investimento para esse fomento a negócios pretos de cultura e arte, prioritariamente para mulheres e população LGBT negras. Tem o BKDP Festival, dentro desse guarda chuva que é o movimento Bekoo também”, conta Priscila Gama, que adianta que, no pacote de projetos futuros do movimento, vem muitas outras ações, como mais articulações audiovisuais além da websérie sobre o Bekoo Das Pretas disponibilizada no Youtube.
A CEO da iniciativa também conta que, apesar dos eventos do Bekoo serem frequentados normalmente por pessoas de 20 a 35 anos, há um público bastante diversificado que curte as festas.
“Uma coisa que eu sempre escutei foi que o Bekoo é um sentimento. Tenho muito orgulho de falar que a gente mudou muito a cena da cultura do estado do Espírito Santo. É sempre muito difícil, porque você tem poucas mulheres negras como referência nesse lugar de gerir grandes coisas na produção cultural nesse nosso país. Então eu não conseguia prever o que ia acontecer, mas eu aceitei cada nova edição [da iniciativa] como um desafio”, finaliza Priscila Gama.
Em setembro, ocorre o BKDP Festival. Para mais informações, acompanhe as redes sociais do movimento.
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